O que sobrará da sociedade?
A sociedade civil pode dar reconhecimento à prática de qualquer religião publicamente? Ou, seria somente por tolerância.
O papa Leão XIII nos responde:
CARTA ENCÍCLICA
SAPIENTIAE CHRISTIANAE
DO SUMO PONTÍFICE
4. Ora, esses bens da alma, que acima dissemos, os quais não se encontram senão na verdadeira religião e na prática perseverante dos preceitos cristãos, vemos que se escurecem cada vez mais entre os homens ou de esquecidos, ou de enfastiados, e parece em certo modo que, quanto mais adianta o progresso no tocante ao corpo, maior se torna a decadência dos bens da alma. E não são pequena prova da diminuição e enfraquecimento da fé cristã as injúrias que com tanta freqüência, à luz do dia e aos olhos do mundo inteiros, se estão fazendo à religião, injúrias que numa época zelosa da religião de forma alguma teria tolerado.
6. Por conseguinte o mesmo tempo em que vivemos, incita-nos a procurar o remédio onde ele se encontra, isto é, a restabelecer, na vida particular e em todas as partes do organismo social, os princípios e práticas do cristianismo, que é o único meio capaz de exterminar os males que nos vexam e de prevenir os perigos que nos ameaçam. A isso, veneráveis irmãos, devemos atender, nisso com todo o empenho e esforço trabalhar. Por essa razão, embora nós tenhamos já tratado essas matérias em outras circunstâncias, segundo se nos oferecia ensejo, parece-nos todavia útil expor com mais desenvolvimento nesta carta os deveres dos católicos; deveres, cujo cumprimento exato contribuirá admiravelmente para se salvar a sociedade. Vivemos numa quadra de luta desesperada e quase cotidiana sobre matérias de máximo interesse, na qual de maravilha se não deixarão alguma vez embair uns, desencaminhar outros e esmorecer muitos. E daí, veneráveis irmãos, o nosso dever de advertir, ensinar e exortar a todos os fiéis, como requerem os tempos “para que ninguém abandone o caminho da verdade”.
7. Está fora de toda a dúvida que na prática da vida mais e mais graves obrigações acorrem aos católicos do que aos homens pouco penetrados da nossa fé ou totalmente desprovidos dela. Quando Jesus Cristo, consumada a redenção do gênero humano, mandou os apóstolos que fossem pregar o Evangelho a toda a criatura, impôs logo a todos os homens a obrigação de escutar e crer o que lhes fosse ensinado, obrigação à qual vinculou indispensavelmente a salvação eterna: “o que crer e for batizado, será salvo; o que, porém, não crer será condenado” (Mc 16,16). Mas, uma vez que o homem abraçou, como devia, a fé cristã, fica por esse fato sujeito à Igreja, como seu filho, e torna-se membro da mais vasta e mais santa sociedade, a qual o Pontífice Romano governa com missão expressa e autoridade suprema, debaixo de sua cabeça invisível, que é nosso Senhor Jesus Cristo.
8. Ora, se a lei natural nos manda amar com predileção extremosa e defender a terra em que nascemos e os criamos, de modo que todo o bom cidadão esteja pronto a arrostar até a morte pela sua pátria, com muito maior razão devem os cristãos animar-se de iguais sentimentos a respeito da Igreja, que é a cidade santa do Deus vivo, obra imediata de Deus e por ele mesmo organizada, a qual anda, sim, peregrinando nesta terra, mas é a que chama os homens e os instrui e encaminha à eterna bem-aventurança. Amemos, pois, e muito a nossa pátria terrena que nos deu a vida mortal: mas amemos ainda mais a Igreja à qual somos devedores da vida imortal da alma, porque é justo preferir aos bens da alma aos do corpo, e os deveres para com Deus têm um caráter mais sagrado que os deveres para com os homens.
9. De resto, se bem ponderarmos, o amor sobrenatural da Igreja, e o amor da pátria são dois afetos que procedem do mesmo princípio eterno, de ambos é o mesmo Deus autor e causa, e por isso nunca poderá um ir de encontro ao outro. Sim, nós podemos e devemos por um lado amar-nos a nós mesmos, querer o bem ao próximo, amar a coisa pública e a autoridade que a governa, e por outro lado e ao mesmo tempo venerar a Igreja como a Mãe, e amar a Deus com o maior amor que nos caiba no coração.
Nenhum comentário:
Postar um comentário