O “... : MISTÉRIO DA FÉ : ...”
Breve estudo sobre a validade
da consagração do vinho
na missa nova de Paulo VI
(Rito Latino)
Por Rodrigo Santana
Julho de 2010
“É pertinente assinalar uma mudança
muito séria na fórmula da consagração do vinho no Sangue de Cristo: as palavras
Mysterium fidei foram eliminadas, e enxertadas logo depois como uma exclamação
conjunta com o povo, o que foi um golpe para a "actuosa participatio".”
Cardeal Alfons Stickler
INTRODUÇÃO
A intenção de destruir e
aniquilar a Missa Católica e com isso impedir a aplicação dos infinitos Méritos
de Cristo às almas vem sendo desenvolvida gradativamente ao longo dos séculos.
Fora da Igreja atingiu seu apogeu na heresia protestante manifestada no século
XVI, que mesmo fulminada pelo Concílio de Trento continuou sua obra através do
modernismo cultivado no interior da própria Igreja, principalmente a partir do
século XIX. O restante da história todos nós já conhecemos (ou pelo menos
deveríamos conhecer): o objetivo dos inimigos da Santa Missa foi alcançado através
do movimento de renovação litúrgica surgido no século XX e concretizado com a
aplicação das reformas pós-conciliares e a conseqüente promulgação do novus ordo missae de Paulo VI em 1969. Este novus ordo é como uma bijuteria que se assemelha a uma jóia
preciosa: muitas vezes nem os especialistas conseguem notar a diferença,
tamanha a “qualidade” da falsificação e a astúcia daqueles que fizeram o
trabalho. Porém, com um olhar mais atento onde se utiliza os instrumentos
necessários é possível constatar com absoluta certeza que aquilo que temos nas
mãos não é o que nos venderam e que na verdade fomos enganados.
A luta contra a missa de
Paulo VI iniciou-se imediatamente a partir do momento em que seus primeiros
esquemas foram apresentados e continuou depois de sua efetiva promulgação,
persistindo até os dias de hoje. Mas mesmo entre estes que realizaram e
realizam tarefa tão nobre existe a crença de que a missa nova pode ser válida.
Ou seja, para muitos críticos e até inimigos ferrenhos da missa nova ela poderia
ser válida, de acordo com alguns “requisitos” como, por exemplo, a intenção do
padre que a celebra, entre outros. A linha de argumentação varia bastante entre
os inimigos da missa nova: alguns pensam que basta ter a intenção de fazer o
que a Igreja faz para que a consagração seja válida, ainda que seja usada na
forma a expressão “por todos” no lugar de “por muitos”. Outros pensam que além
da intenção correta do padre a consagração para ser válida deve ser feita com a
expressão “por muitos”.
A finalidade deste pequeno
estudo é mostrar ao leitor católico tradicional que nenhuma destas proposições
está de acordo com a doutrina católica. Para isso nós iremos desviar o objeto
da análise. Esqueceremos, momentaneamente, a problemática questão “por todos” versus “por muitos” e passaremos a focar outra expressão de igual
importância, ou até de importância maior: a expressão “mysterium fidei”, ou “mistério da fé”, que faz parte da forma de
consagração ensinada pelo Catecismo do Concílio de Trento. Veremos as circunstâncias
em que estas palavras foram ditas, quem as disse, como elas foram conservadas
pela Tradição, o que os santos papas falaram sobre elas e aquilo que foi feito
na missa de Paulo VI. Poderemos concluir, então, se a forma de consagração da
nova missa, em princípio, é válida ou não, ainda que dita em latim e utilizando
a expressão “pro multis”.
1 - ORIGEM DA EXPRESSÃO “MYSTERIUM
FIDEI” E SEU VERDADEIRO LUGAR NA FORMA DA CONSAGRAÇÃO
Na missa nova de Paulo VI
existe uma alteração muito grave que certamente afeta de forma substancial a
validade da consagração do vinho: é a omissão da expressão “mistério da fé”,
utilizada pelo próprio Cristo, que do centro da forma consacratória foi
“deslocada” para depois da expressão “fazei isto em memória de mim”. Portanto,
esta expressão deixou de fazer parte da forma e dela foi retirada, passando daí
em diante, a ser uma mera afirmação de que aquilo que está sendo feito é
simplesmente a lembrança da última ceia.
Pensamos que a omissão desta
expressão do seu lugar de origem e sua posterior inserção fora do formulário pode
ser considerada a melhor e mais sutil maneira de invalidar a consagração que
poderia ser realizada pelos inimigos da Igreja. Esses inimigos astuciosos
insinuaram que esta alteração não poderia afetar substancialmente a forma, pelo
motivo de que nada estaria sendo omitido das palavras essenciais usadas pela
Igreja, mas que somente mudavam palavras que não eram essenciais para a
consagração, alegando que esta expressão não constava nas Escrituras. Provavelmente
“esqueceram-se” de que a Igreja também possui a Tradição oral. Vejamo-na.
2-TRADIÇÃO ORAL: A ORIGEM DA EXPRESSÃO
“MYSTERIUM FIDEI” E SEU LUGAR NA FORMA DA CONSAGRAÇÃO
Comecemos pelo ensinamento do Papa Inocêncio III:
“(...) Perguntaste, de fato, quem acrescentou, no
cânon da missa usado na Igreja universal, à forma das palavras que Cristo mesmo
pronunciou quando transformou segundo a substância o pão e o vinho no seu corpo
e sangue, aquilo que, como se lê, nenhum dos Evangelistas formulou expressamente.
…
No cânon da missa se encontra inserida entre aquelas
palavras esta expressão: “mistério da fé”.
…
Realmente constatamos que, tanto das palavras como das
ações do Senhor, foram omitidas pelos Evangelistas muitas coisas que os
Apóstolos, como se lê, completaram com a palavra ou expressaram com a ação. …
Naquela palavra, pois, que é objeto da pergunta de Tua
Fraternidade, a saber, “mistério da fé”,
alguns acharam que encontraram um sustentáculo para o erro, dizendo que no
sacramento do altar não está a verdade do corpo e do sangue de Cristo, mas só o
símbolo, a espécie, a figura, pelo fato de a Escritura dizer, algumas vezes,
que o que é oferecido sobre o altar é sacramento, mistério e exemplo. Mas
esses, por isso, caem no laço do erro, porque não compreendem de modo
conveniente os ensinamentos das Escrituras, nem recebem de modo reverente os
sacramentos de Deus, desconhecendo ao mesmo tempo as Escrituras e o poder de
Deus [cf. Mt 22,29]. …
Diz-se, todavia, “mistério da fé”, porque aqui se crê
outra coisa do que se vê e se vê outra do coisa do que se crê. Vêem-se, de
fato, as espécies do pão e do vinho, enquanto se crê a verdade da carne e do
sangue de Cristo e o poder da unidade e da caridade. …
Cremos, pois, que a forma das palavras, assim como se
encontra no cânon, os Apóstolos a
receberam de Cristo, e deles os seus sucessores. …”
(Carta “Cum Marthae circa”, ao
arcebispo João de Lião, 29 nov. 1202. Dz
782-783 - A forma sacramental da eucaristia).
Vejamos agora o que ensina o
Decreto De defectibus in celebratione
missarum ocorrentibus (Defeitos ocorridos na celebração da missa), que consta no Missale Romanun de São Pio V, que é fonte do cânon nº 818 no Código
de Direito Canônico (1) de 1917:
“(…) 1. Podem surgir defeitos com respeito à forma, se algo falta para completar a integridade
das palavras da consagração. As palavras da consagração, que são a forma
deste Sacramento, são as seguintes: ‘Porque
isto é o Meu Corpo’, e ‘Pois este é o
cálice do Meu Sangue do Novo e Eterno Testamento: Mistério da Fé: que será
derramado por vós e por muitos em remissão dos pecados’. Se qualquer
omissão (diminueret= diminuição – n.d.tr) ou alteração (immutaret=mudança) é feita na forma da consagração do Corpo e Sangue, envolvendo uma mudança no significado, a
consagração é inválida. Uma adição feita sem alterar o significado não
invalida a consagração, mas o celebrante comete um pecado grave.
2. Se o celebrante não se recorda de ter dito as
palavras usuais na Consagração, ele não deve, por essa razão ficar preocupado.
Se, porém, ele tem certeza de que omitiu algo necessário para o sacramento, ou
seja, a forma de consagração ou parte
dela, deve repetir a forma e continuar a partir daí. Se ele pensa que é
muito provável que omitiu algo essencial: deverá repetir a forma sob tácita
condição. Mas se o que ele omitiu não é necessário ao sacramento, não é preciso
repetir, deve simplesmente dar continuidade à missa (…)” (grifos nossos - Missale
Romanum S. Pio V).
Sobre estas palavras
retiradas do Decreto do Missal Tridentino, comentou Monsenhor Pivarunas, bispo responsável
pelo CMRI:
“(…) Assim, omitir a palavra ‘pois’ (enim) não envolve uma mudança no significado, mas
este não é o caso com outras palavras, especialmente com ‘que será derramado por vós e por muitos para remissão dos pecados’.
Pois estas palavras claramente significam a graça que se confere. Ao contrário,
somente as palavras, ‘Pois este é o
Cálice do Meu Sangue’, não significam a administração da graça do Sacramento’” (A Invalidez do Novus ordo
Missae – Monsenhor Pivarunas - CMRI). Disponível em:
Vejamos agora o Terceiro Catecismo da Doutrina Cristã:
“P. 383. Quais
são as palavras necessárias para a consagração?
R. As palavras necessárias para a consagração são as mesmas palavras que Cristo Senhor
pronunciou na última ceia sobre o pão e o vinho, e que o sacerdote, fazendo
às vezes de Cristo, repete na celebração da missa” (Terceiro Catecismo
da Doutrina Cristã composto pelo Cardeal Pietro Gasparri à pedido de S.S. o
Papa São Pio X – Para os Adultos que desejam ter um conhecimento mais completo
da doutrina católica - Est. Graf. Sta. Teresinha – Porto Alegre – RS – 1936 -
Pág. 144).
O autor nos cita duas fontes no
rodapé desta pergunta nº 383.
A primeira delas é o Decreto Pro Armenis promulgado pelo Concilio de Florença. Vejamos o que ele
diz:
“(…) A forma deste sacramento (Eucaristia) são as palavras com as quais o Salvador o
produziu (…)” (Concílio de Florença - Decreto para os Armênios: Bula
“Exultate Deo” sobre a união com os
armênios, 22 nov. 1439 [Dz 1321 – pag. 364]).
Também neste Concílio foi
promulgado o seguinte texto referente a forma da Eucaristia:
“(…) Mas, já que no decreto para os armênios acima
apresentado não se fala da forma que a santa Igreja romana, confirmada pela doutrina e pela autoridade
dos Apóstolos Pedro e Paulo, sempre usou na consagração do corpo e
do sangue do Senhor, julgamos dever apresentá-la aqui. Eis a forma usada na
consagração do corpo do Senhor: “Isto é o meu corpo”; e naquela do
sangue: “Este é o cálice do meu sangue, da nova e eterna aliança : mistério da
fé: derramado por vós e por muitos para a remissão dos pecados” (Concílio
de Florença – Decreto para os jacobitas: Bula “Cantate Domino” sobre a união com os coptas e os etíopes, 4 fev.
1442 [(Dz 1352 – pag. 372)] (grifos
nossos).
Outra referência que podemos
citar é a permanência integral do Decreto Defectibus
na reforma promulgada por São Pio X do Missal Romano de São Pio V, através da
Bula Divino afflatu.
Vejamos agora a segunda fonte
da pergunta nº 383 do Terceiro Catecismo, que é justamente um trecho do
Catecismo dos Párocos ou Catecismo Romano. A citação é longa, mas vale à pena
ler para poder entender a questão:
“(…) [21] Pelas mesmas razões, já alegadas, deve o
sacerdote ter uma perfeita noção da forma para consagrar o vinho, que é a
segunda matéria deste Sacramento. Devemos
crer, com inabalável certeza, que ela está contida nas seguintes palavras: "Este é o Cálice do Meu Sangue, da
nova e eterna Aliança, Mistério da fé, o qual por vós e por muitos será
derramado, em remissão dos pecados".
Destas palavras, muitas foram tiradas das Sagradas Escrituras, algumas,
porém, são conservadas pela Igreja, em virtude da Tradição Apostólica.
Senão
vejamos, "Este é o Cálice" - são palavras escritas por São Lucas e o
Apóstolo São Paulo. O que vem a seguir: "do Meu Sangue", ou "Meu
Sangue da Nova Aliança, o qual por vós e por muitos será derramado em remissão
dos pecados" – são palavras que se acham parte em São Lucas , parte em São Mateus. As
palavras "da eterna [Aliança]" e "Mistério da fé" foram-nos
comunicadas pela Sagrada Tradição, que é a medianeira e zeladora da verdade
católica.
[22] Ninguém poderá contestar a exatidão desta
forma, se também aqui tiver em vista o que já foi dito acerca da forma
na consagração da matéria do pão. Pois certo é que nas palavras que exprimem a
conversão do vinho no Sangue de Cristo Nosso Senhor, está contida a forma
correspondente a esta matéria. Ora, como aquelas palavras a exprimem
claramente, é de toda a evidência que
não se deve estabelecer outra forma.
Além
disso, essas palavras exprimem certos
efeitos admiráveis do Sangue derramado na Paixão de Nosso Senhor, efeitos que estão na mais íntima relação
com este Sacramento. O primeiro é o
acesso à eterna partilha, cujo direito nos advém da "nova e eterna
Aliança". O segundo é o acesso
à justiça pelo "Mistério da
fé"; porquanto Deus nos propôs Jesus como vitima propiciatória,
mediante a fé em Seu Sangue ,
para que Ele mesmo seja justo e justifique a quem acredita em Jesus Cristo. O terceiro é a remissão dos pecados.
[23]
Como estas palavras da Consagração [do vinho] encerram um sem número de
Mistérios, e são muito adequadas ao que devem exprimir, força é considerá-las
com mais vagar e atenção.
Quando pois se diz: "Este é o Cálice do meu Sangue" - cumpre
entender: "Este é o Meu Sangue, que está contido neste cálice". Como
aqui se consagra sangue, para ser bebida dos fiéis, é oportuno e acertado
fazer-se menção do cálice. O sangue como tal não lembraria bastante a idéia de
bebida, se não estivesse colocado num recipiente.
Acrescentam-se depois as palavras "da Nova Aliança", para
compreendermos que o Sangue de Cristo Nosso Senhor é dado aos homens, em sua
absoluta realidade, pela razão de pertencer a Nova Aliança; não somente em
figura, como acontecia na Antiga Aliança, da qual contudo lemos, na epistola do
Apóstolo aos Hebreus, não ter sido selada sem sangue.
Nesse sentido é que o Apóstolo explicou: "Por isso mesmo", Cristo "é o Mediador da Nova Aliança, para que, intervindo a Sua morte, recebam a promessa da herança eterna os que a ela foram chamados”.
Nesse sentido é que o Apóstolo explicou: "Por isso mesmo", Cristo "é o Mediador da Nova Aliança, para que, intervindo a Sua morte, recebam a promessa da herança eterna os que a ela foram chamados”.
O adjetivo
"eterna" refere-se à herança eterna, que legitimamente nos cabe pela
morte de Cristo Senhor Nosso, o eterno Testador.
A
cláusula "Mistério da fé"
não tem por fim excluir a verdade objetiva; significa que devemos crer, com fé
inabalável, o que nele se oculta, de maneira absolutamente inacessível à vista
humana.
Mas
estas palavras não tem aqui o mesmo sentido, que se lhes atribui também com
relação ao Batismo. Fala-se, pois, de "Mistério
da fé", porque só pela fé vemos o Sangue de Cristo, velado que está na
espécie de vinho. Como, porém, o Batismo abrange toda a profissão da fé cristã,
temos razão em chamar-lhe "Sacramento da fé", o que corresponde ao ‘mistério’
dos gregos.
Existe,
ainda, outro motivo de chamarmos "Mistério
da fé" ao Sangue de Nosso Senhor. A razão humana oferece muita
dificuldade e relutância, quando a fé nos propõe a crer que Cristo Nosso
Senhor, verdadeiro Filho de Deus, sendo Deus e Homem ao mesmo tempo, sofreu a
morte por amor de nós. Ora, esta Morte é justamente representada pelo
Sacramento do Seu Sangue. Em vista desse fato, era bem comemorar-se aqui, e não
na Consagração do Seu Corpo, a Paixão de Nosso Senhor, mediante as palavras:
"que será derramado em remissão dos pecados”. Consagrado separadamente, o
Sangue tem mais força e propriedade, para revelar, aos olhos de todos, a Paixão
de Nosso Senhor, a Sua Morte, a modalidade de Seu sofrimento” (Catecismo dos
Párocos, p. II, c. IV, n. 12 e seg.).
Vejamos agora um monitum do Santo Ofício, do ano de 1958,
que declara nefasto o ato de
mutilação nos livros litúrgicos, citando explicitamente a questão da omissão da
expressão “Mistério da Fé”:
MONITUM
“Foi relatado (compertum = descoberto, certificado) a
esta Suprema Sagrada Congregação que na tradução para língua vulgar do Novo
Ordo da Semana Maior (Semana Santa)
foram omitidas as palavras "Mistério
da Fé" na forma da consagração do Cálice. Além disso, foi relatado que
sacerdotes omitem essas mesmas palavras na mesma celebração da missa. Por essa
razão esta Suprema Congregação adverte ser contrário a lei divina introduzir
mudanças em coisa tão santa e
mutilar ou interpolar edições de livros litúrgicos (cfr. can. 1399, 10°).
Cuidem, pois, os Bispos que se observem
estritamente os preceitos dos sagrados canônes acerca do culto divino, segundo
o pensamento da advertência do Santo Ofício do dia 14 de fevereiro de 1958, e
vigiem com zelo para que ninguém ouse
introduzir mudança mesmo mínima que seja na matéria e forma dos sacramentos.
Dado em Roma, Palácio do
Santo Ofício, dia 24 do mês de Julho de 1958.
Arcturus De Jorio, Notarius ”
Fonte: Ata da Suprema Sagrada Congregação do Santo
Ofício – sob o Papa Pio XII – Monitum – Pag. 536 [AAS 50 – 536], tradução
gentilmente cedida pelo professor Paulo Barbosa. Disponível em:
3 - DOUTRINA PERENE DE SANTO TOMÁS DE
AQUINO
Como se não bastasse tantas
citações retiradas do magistério da Igreja, vejamos aquilo que nos ensinou
sobre o assunto Santo Tomás de Aquino, em seu Comentário da
Primeira Epístola de São Paulo aos Coríntios (1Cor 11,25-26) ele diz:
“Mas acerca destas palavras
usadas pela Igreja para a consagração do vinho, na opinião de alguns, nem todas
são de absoluta necessidade para a validade da forma, mas somente estas: "este é o cálice do meu sangue",
não assim o restante: "do novo e
eterno testamento, mistério da fé, que será derramado por vós e por muitos para
remissão dos pecados." Mas essa opinião não parece boa, porque tudo
o que se segue é uma determinação do
predicado. Logo a significação dessa mesma locução ou sentença pertence. E
porque, como já foi dito muitas vezes, as formas dos sacramentos, à par de
significar, obram ao significar, a
locução toda inteira pertence à forma para sua força eficaz. Nem impede a
isto raciocinar em objeção, que se interpõe: que na consagração do Corpo é
suficiente para dizer: "Isto é o meu
Corpo", porque o sangue, consagrado por seu lado, representa de modo
especial a Paixão de Cristo, pelo qual seu Sangue fica separado do Corpo e, por
conseguinte, na consagração do Sangue era
conveniente expressar-se a virtude da Paixão de Cristo:
Primeiro, a respeito de nossa
culpa, que ela limpou, de acordo com Apocalipse 1.5: "nos lavou com seu
Sangue dos nossos pecados"; e que remete para o que ele diz: "que
será derramado por vós e por muitos para a remissão dos pecados ". Que em
verdade foi derramado para a remissão dos pecados, não só por muitos, mas por
todos, segundo São João: "Ele Mesmo é a vítima de propiciação pelos nossos
pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo "(1Jo 2,2).
Mas porque alguns tornam-se indignos para receber tal efeito, quanto à sua
eficácia é dito ser derramado por muitos, nos quais surte o efeito da Paixão de
Cristo. Entretanto assinaladamente diz "pro vobis et pro multis", por
vós e por muitos, porque este Sacramento vale para perdoar os pecados aos que o
recebem a modo de sacramento, o qual assinaladamente se faz notar, ao dizer:
por vós, isto é, aos quais havia dito: tomai. Vale também, a modo de
sacrifício, a muitos que não o tomam, e por aqueles que se oferece; no qual se
dá a entender, ao se dizer: “e por muitos”.
Segundo, por comparação com a
vida de justiça, que se dá a ser pela fé,
segundo diz aos Romanos: "sendo justificados gratuitamente pela graça do
mesmo, em virtude da redenção que todos têm em Jesus Cristo , a quem
Deus propôs para ser vítima de expiação em virtude de seu Sangue por meio da fé "(3,24). No tocante a isto diz: Mistério, isto é, o que a fé ocultou,
porque em todos os sacrifícios do Antigo Testamento a fé da Paixão de Cristo
estava oculta, como a verdade na figura. E isto, por não se falar no cânon da
Escritura, o tem recebido a Igreja por tradição apostólica.
Terceiro, à respeito da vida gloriosa, na qual pela Paixão de Cristo temos uma entrada, segundo aquilo de Hebreus: "tendo a firme esperança de entrar no santuário do céu, pelo Sangue de Cristo" (He 10, 19). E quanto a isto diz, "do novo e eterno testamento". Eterno, porque a disposição é sobre a herança eterna; novo, para distingui-lo do antigo, que prometia bens temporais. Daqui o de Hebreus: "e por isso é o mediador de um novo testamento, afim de que mediante sua morte ... recebam a herança eterna prometida aos que tem sido chamados de Deus" (He 1X, 15).”
Terceiro, à respeito da vida gloriosa, na qual pela Paixão de Cristo temos uma entrada, segundo aquilo de Hebreus: "tendo a firme esperança de entrar no santuário do céu, pelo Sangue de Cristo" (He 10, 19). E quanto a isto diz, "do novo e eterno testamento". Eterno, porque a disposição é sobre a herança eterna; novo, para distingui-lo do antigo, que prometia bens temporais. Daqui o de Hebreus: "e por isso é o mediador de um novo testamento, afim de que mediante sua morte ... recebam a herança eterna prometida aos que tem sido chamados de Deus" (He 1X, 15).”
(Comentário de
Santo Tomás de Aquino à Primeira Epístola de São Paulo aos Coríntios (1Cor
11,25-26) trad. Rodrigo Santana)
Citemos também de Santo Tomás a Suma Teológica:
SUMA TEOLÓGICA – III
Questão 78: A FORMA DO SACRAMENTO DA EUCARISTIA
ARTIGO III
É esta a forma conveniente da
consagração do vinho:
“Este
é o cálice do meu sangue, do novo e eterno testamento, mistério da fé, que será
derramado por vós e por muitos para remissão dos pecados”?
QUANTO AO TERCEIRO, ASSIM SE PROCEDE: parece que esta não é a forma conveniente da
consagração do vinho: Este é o cálice do
meu sangue, do novo e eterno testamento, mistério da fé, que será derramado por
vós e por muitos para remissão dos pecados.
1. Com efeito, como o pão se converte no corpo de
Cristo pela força da consagração, assim também o vinho no sangue de Cristo.
Ora, na forma da consagração do pão, o corpo de Cristo é indicado diretamente,
e nada se lhe acrescenta. Logo, torna-se inadequado que, na forma da
consagração do vinho, se ponha o sangue de Cristo de maneira indireta, e se
indique diretamente o cálice, ao se
dizer: “Este é o cálice do meu sangue”.
2. ALÉM DISSO, as palavras da consagração do pão não
são mais eficazes do que as da consagração do vinho, pois ambas são de Cristo.
Por isso, logo depois que se diz “Isto é
o meu corpo” realiza-se plenamente a consagração do pão. Portanto, logo
depois que se diz “Este é o cálice do meu
sangue”, realiza-se plenamente a consagração do sangue. E o que se segue
não parece ser da substância da forma: tanto que isto só pertence às
propriedades deste sacramento.
3. ADEMAIS, a nova aliança origina-se de uma
inspiração interna: como se lê na carta do Apóstolo, Hb 8,8-10, que cita as
palavras do profeta Jeremias 31,31: “Firmarei
com a casa de Israel uma nova aliança, dando minhas leis às suas mentes”.
Ora, o sacramento, ao contrário, atua de maneira externa e visível. Logo, não é
adequado mencionar na forma do sacramento a “nova
aliança”.
4. ADEMAIS, um ser é novo pelo fato de estar próximo do começo de seu existir. Eterno,
por sua vez, não tem princípio de existência. Logo, não é exato falar de uma
aliança “nova e eterna”, já que é
algo contraditório.
5. ADEMAIS, devem-se subtrair às pessoas as ocasiões
de errar, conforme ensina o profeta: “Tirai
todo obstáculo do caminho do meu povo”(Is
57,14). Ora, alguns erraram ao julgarem que o corpo e o sangue de Cristo estão
neste sacramento somente de modo espiritual. Logo, nesta forma se diz
impropriamente “mistério da fé”.
6. ADEMAIS, o batismo é o sacramento da fé, enquanto a Eucaristia é o sacramento da caridade. Portanto, dever-se-ia antes figurar na
forma o termo “caridade” que “fé”.
7. ADEMAIS, todo este sacramento no referente tanto ao
corpo quanto ao sangue é um memorial da paixão do Senhor, conforme está escrito
1Cor 11,26: “Pois todas as vezes que
comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciais a morte do Senhor”.
Não deveria, pois, ser necessário mencionar na forma da consagração do sangue a
paixão de Cristo e de seus frutos mais do que já foi feito na consagração do
pão, sobretudo uma vez que o Senhor disse, Lc 22,19: “Isto é o meu corpo dado por vós”.
8. ADEMAIS, a paixão de Cristo foi suficiente para
todos e eficaz para muitos. Devia-se ter dito que “será derramado por todos” ou “por
muitos”, sem o acréscimo de “por vós”.
9. ADEMAIS, as palavras, que constituem este
sacramento, recebem sua eficácia da instituição de Cristo. Ora, nenhum
evangelista narra que Cristo tenha pronunciado todas estas palavras. Logo, a
forma da consagração do vinho não é adequada.
RESPONDO:
Existem duas opiniões a respeito desta forma. Alguns
autores afirmaram que somente pertencem à substância da forma deste sacramento
as palavras: “Este é o cálice do meu
sangue” e não as seguintes. – Ora, isto parece equivocado. Pois as palavras
que se seguem são determinações do predicado, a saber, do sangue de Cristo. Por
isso, pertencem à integridade da frase.
Por isso, outros dizem, com
mais razão, que pertencem à substância da forma todas as palavras seguintes,
até o que vem depois: “Todas as vezes que
fizerdes isso”. Com efeito, estas últimas palavras fazem parte do uso do sacramento,
mas não da substância da forma. E, por isso, o sacerdote pronuncia todas estas
palavras com um mesmo rito e modo, isto é, segurando o cálice com as mãos. O
próprio Evangelho de Lucas intercala depois das primeiras palavras as
seguintes: “Este cálice é a nova Aliança
em meu sangue derramado por vós”.
Por conseguinte, deve-se
dizer que todas estas palavras pertencem à substância da forma. Pelas primeiras
palavras “Este é o cálice do meu sangue”
vem significada a própria conversão do vinho no sangue da maneira como se
explicou acima, a respeito da forma da consagração do pão. As palavras
seguintes designam a força do sangue derramado na paixão, que atua neste
sacramento. Tal força tem um tríplice efeito. O primeiro e mais importante é a
obtenção da herança eterna, conforme a carta aos Hebreus: “Temos total garantia de acesso ao santuário pelo sangue de Jesus”.
E para designar isto se diz: “da nova e
eterna aliança”. – O segundo efeito se refere à obtenção da justificação da
graça que se faz pela fé, como ensina a Carta aos Romanos: “Foi a ele que Deus
destinou para servir de expiação por seu sangue, por meio da fé, afim de ser
justo e de justificar aquele que vive da fé em Jesus Cristo ”. E a
este respeito, se acrescenta: “mistério
da fé”. – O terceiro efeito diz respeito a remover o empecilho para os
efeitos anteriores, isto é, os pecados, como se indica na Carta aos Hebreus: “O
sangue de Cristo purificará nossa consciência das obras mortas”, a saber, dos
pecados. E a respeito disso, se diz finalmente: “que será derramado por vós e por muitos para a remissão dos pecados”.
QUANTO AO 1º, portanto,
deve-se dizer que quando se diz “Este é o
cálice do meu sangue”, trata-se de uma expressão figurada que pode ser
entendida de duas maneiras. Antes de tudo como uma metonímia que assume o
continente pelo conteúdo, como se dissesse: “Este
é o meu sangue que está contido no cálice”. Fala-se assim, porque o sangue
de Cristo se consagra na Eucaristia como bebida para os fiéis, o que não
aparece sem mais na razão de sangue. Por isso, foi oportuno designar o sangue
pelo recipiente próprio da bebida.
Numa segunda maneira,
pode-se entender esta frase como metáfora, pois o cálice significa a paixão de Cristo, que à
semelhança do cálice inebria, como se lê em Lm 3,15: “Saturou-me de amargura, de absinto me inebriou”. Desta sorte, o
próprio Senhor chama sua paixão de cálice, ao dizer em Mt 26,39: “Este cálice passe longe de mim”. O
sentido é então: “Este é o cálice da
minha paixão”. Faz-se menção dela ao consagrar o sangue separadamente do
corpo, já que o sangue se separa do corpo pela paixão.
QUANTO AO 2º, deve-se dizer
que, uma vez que o sangue consagrado separadamente do corpo simboliza
expressamente a paixão, menciona-se então o efeito da paixão de preferência na
consagração do sangue a fazê-lo na consagração do corpo, que é antes o sujeito
da paixão. Isto é também designado pelas palavras do Senhor: “que será entregue por vós”, como se
dissesse: “que sofrerá a paixão por vós”.
QUANTO AO 3º, deve-se dizer
que o testamento consiste em dispor de uma herança. Com efeito, Deus dispôs que
a herança celeste fosse dada aos homens pela força do sangue de Jesus Cristo:
assim se lê em Hb 9,16: “Onde há
testamento, é preciso que se verifique a morte do testador”. De duas
maneiras é dado aos homens o sangue de Cristo. Primeiramente em forma de
figura, que pertence ao Antigo Testamento. O mesmo autor da carta aos Hebreus
(v. 18) conclui: “Por isso mesmo, a
primeira aliança não foi instaurada sem efusão de sangue”. Isso fica claro
quando se coteja com o livro do Êxodo 24,7-9: “Tomou o livro da aliança e o leu ao povo. Moisés tomou o sangue e com
ele aspergiu o povo, dizendo: ‘Este é o sangue da aliança que o Senhor firmou
convosco, com base em todas estas palavras”.
Numa segunda maneira, o
sangue de Cristo é oferecido aos homens na verdade da realidade. Isto é próprio
do novo Testamento. É isso que diz o autor da Carta aos Hebreus um pouco antes
(v. 15): “Eis por quê, ele (Cristo) é
mediador de um testamento novo, para que tendo a sua morte intervindo, os que
são chamados possam receber a herança já prometida”. Portanto, este texto
se refere ao “sangue da nova aliança”,
que já não se manifesta de modo figurado, mas na realidade. Por isso, se
acrescenta “que será derramado por vós”.
– A inspiração interior se origina da força do sangue, já que somos
justificados pela paixão de Cristo.
QUANTO AO 4º, deve-se dizer
que este testamento é “novo” em relação ao dom feito. Por sua vez, diz-se
“eterno”, tanto por causa do desígnio eterno de Deus, quanto da herança eterna,
disposta por este testamento. A própria pessoa de Cristo, por cujo sangue este
testamento foi disposto, é eterna.
QUANTO AO 5º, deve-se dizer
que a palavra “mistério”, inserida
aqui, não visa excluir a verdade da realidade, mas mostrar-lhe o caráter
velado. Pois, até mesmo o sangue de Cristo está neste sacramento de modo
encoberto, assim como também a sua paixão foi figurada no antigo Testamento.
QUANTO AO 6º, deve-se dizer
que chama-se “sacramento da fé” por
ser objeto da fé. Com efeito, somente pela fé se pode afirmar que o sangue de
Cristo está realmente presente na Eucaristia. Também a paixão de Cristo
justifica pela fé. O batismo, por sua vez, se diz “sacramento da fé” por ser uma proclamação da fé. – A Eucaristia é,
sem dúvida, o “sacramento da caridade”,
enquanto a simboliza e realiza.
QUANTO AO 7º, o sangue
consagrado separadamente do corpo representa de maneira mais expressiva a
paixão de Cristo. Por isso, se faz menção dela e de seu fruto antes na
consagração do sangue do que na consagração do corpo.
QUANTO AO 8º, deve-se dizer
que o sangue da paixão de Cristo é eficaz não somente para os judeus eleitos, a
quem foi dado o sangue da antiga aliança, mas também para os pagãos; nem
somente para os sacerdotes, que celebram este sacramento nem unicamente para
aqueles que o recebem, mas também para aqueles para quem ele foi oferecido. Por
isso, o Senhor diz expressamente “por
vós” judeus “e por muitos”, a
saber, pelos pagãos; ou “por vós” que
comungais “e por muitos” por quem se
oferece.
QUANTO AO 9º, deve-se dizer
que os evangelistas não pretendiam transmitir as formas dos sacramentos, que
deveriam manter-se de modo secreto na Igreja primitiva, como diz Dionísio, no
final de sua Hierarquia Eclesiástica. Pretenderam narrar a história de Cristo.
Contudo, quase todas estas palavras podem ser tiradas
da Escritura. Assim, “Este é o cálice”
vem do Evangelho de Lucas 22,20 e da 1ºCarta aos Coríntios 11,25. Em Mateus
26,28 se diz: “Pois isto é o meu sangue,
o sangue da Aliança, derramado em prol da multidão, para o perdão dos pecados”.
– O que se acrescenta, “eterna” e “mistério da fé”, vem da tradição do
Senhor, que chegou à Igreja pelos Apóstolos, conforme ensina Paulo em 1Cor
11,23: “Eis o que eu recebi do Senhor e o
que vos transmiti”.(Edições Loyola)
4 – ENSINAMENTO COMUM DOS TEÓLOGOS
Vejamos agora o que os
teólogos ensinavam em relação a este assunto. As citações abaixo foram
extraídas do artigo “Comentários do artigo de Duddy Mike sobre a forma
eucarística da consagração do vinho”. Disponível em:
Nota: Como não temos o pleno domínio da
língua inglesa, nossa tradução poderá conter erros, sendo assim, colocaremos as
passagens originais no inglês para que os que possuem pleno domínio possam
compreender perfeitamente o texto.
A Administração dos
Sacramentos
(1962) pelo Pe. Nicholas Halligan, O.P., aluno do Angelicum de Roma, onde recebeu seu doutorado
em Sagrada Teologia ,
e professor na Pontifícia Faculdade Teológica da Casa Dominicana de Estudos em
Washington, DC:
The Administration of the Sacraments (1962) by Fr. Nicholas Halligan, O.P., alumnus of the
Angelicum of Rome, where he received his doctorate in Sacred Theology, and a
professor in the Pontifical Theological Faculty of the Dominican House of
Studies in Washington, D.C.:
"A forma de consagração do pão é:
"Hoc est enim corpus meum", e do vinho: "Hic est enim calix
sanguinis mei, novi et aeterni testamenti, mysterium fidei, qui pro vobis et
pro multis effundetur in remissionem peccatorum". A palavra “enim” não se
refere à validade e sua omissão é um pecado venial. As palavras que
precedem as fórmulas, viz., "Qui pridie ... Simili modo..." não pertencem à
forma. É comumente
ensinado hoje que as palavras essenciais da forma da Eucaristia - e sua omissão
pode invalidar o formulário - são: "Hoc est corpus meum", "Hic
est calix sanguinis mei" (ou "Hic ast sanguis meus”). Alguns sustentam
que as palavras restantes "novi et ..." são essenciais. Na prática, é gravemente prescrita a pronunciar-se todo o formulário, se
qualquer uma das palavras de "novi et ..." forem omitidas, todo o
formulário deve ser repetido condicionalmente".
“The form of consecration of the bread is: “Hoc est enim
corpus meum,” of the wine: “Hic est enim calix sanguinis mei, novi et aeterni
testamenti, mysterium fidei, qui pro vobis et pro multis effundetur in
remissionem peccatorum.” The word “enim” does not pertain to validity and its
omission is a venial sin. The words which precede these formulas, viz., “Qui
pridie... Simili modo...” in no way pertain to the form. It is commonly taught
today that the essential words of the form of the Eucharist—and their omission
would invalidate the form—are: “Hoc est corpus meum,” “Hic est calix sanguinis
mei” (or “Hic ast sanguis meus”). Some hold that the remaining words “novi
et...” are essential. In practice it is gravely prescribed to pronounce the
entire form; if any of the words from “novi et...” on are omitted, the whole
form is to be repeated conditionally.”
Moral e
Teologia Pastoral (1957) pelo Pe. Henry Davis, S.J.:
"A forma da
consagração do vinho é: Hic est
enim calix Sanguinis mei, novi et aeterni testamenti, mysterium fidei, qui pro
vobis et pro multis effundetur in remissionem peccatorum.
"As palavras:
Hic est calix Sanguinis mei, ou Hic est Sanguis meus, são
certamente essenciais, possivelmente o restante do formulário é essencial, mas
todos concordam que, se qualquer uma das palavras seguintes são omitidas, um
grave pecado é cometido, e todo o formulário deve ser repetido todo
condicionalmente".
Moral and Pastoral Theology (1957)
by Fr. Henry Davis, S.J.:
“The form of the
consecration of the wine is: Hic est
enim calix Sanguinis mei, novi et aeterni testamenti, mysterium fidei, qui pro
vobis et pro multis effundetur in remissionem peccatorum.
“The words: Hic est calix Sanguinis mei, or Hic est Sanguis meus, are certainly
essential; possibly the rest of the form is essential, but all are agreed that
if any of the subsequent words are omitted a grievous sin is committed, and the
whole form must be repeated conditionally.”
De Sacramentis (1932), Pe. Felix M. Cappello,
S.J., professor da Pontifícia Gregoriana Instituto:
"A forma para a consagração do vinho é esta: Hic est enim calix Sanguinis Mei, novi et aeterni
testamenti, mysterium fidei, qui pro vobis et pro multis effundetur in
remissionem peccatorum. As palavras: Hic est (enim) calix Sanguinis Mei, certamente são
essenciais.
"Certos autores concordam que as outras palavras: novi et aeterni testamenti, etc.,
também pertencem à forma essencial. Santo Tomás parece seguir esta opinião,
embora alguns teólogos e outros autores pensam que o Doutor Angélico sentia
completamente o contrário. Qualquer que seja o pensamento da opinião
do Santo Doutor e de outros teólogos, a visão oposta é a opinião comum e,
portanto, moralmente certa. Na prática, seria
certamente pecado grave, omitir estas palavras, e se ele tivesse dito as
primeiras palavras apenas, ele deveria repetir todo o formulário
condicionalmente ".
De Sacramentis (1932), Fr. Felix
M. Cappello, S.J., professor of the Gregorian Pontifical Institute:
“The form for the
consecration of the wine is this: Hic est
enim calix Sanguinis Mei, novi et aeterni testamenti, mysterium fidei, qui pro
vobis et pro multis effundetur in remissionem peccatorum. The
words: Hic est (enim) calix
Sanguinis Mei, are certainly essential.
“Certain authors
agree that the other words: novi et
aeterni testamenti, etc., also pertain to the essential form. St.
Thomas himself seems to follow this opinion, although some theologians and other
authors think that the Angelic Doctor felt quite otherwise. Whatever is thought
of the opinion of the Sacred Doctor and of other theologians, the opposite view
is the common opinion and is thus morally certain. In practice, he would
certainly sin gravely who would omit these words, and if he had said the first
words only, he ought to repeat the entire form conditionally.”
Assim,
mesmo Pe. Cappello, S.J., que considerou o parecer do
formulário curto como a opinião comum entre os teólogos, ensinava que, na prática, todo o
formulário deve ser dito. Estas citações de eminentes teólogos demonstram que a
questão não foi resolvida em última instância e autoridade. Se fosse uma questão resolvida, então esses teólogos não exigiriam a repetição
das palavras da consagração, pois assim o Sacramento já teria sido
confeccionado.
So even Fr. Cappello, S.J., who considered the opinion of
the short form as the common opinion among theologians, taught that in practice the entire form
must be said. These quotes from eminent theologians demonstrate that the matter
has not been ultimately and authoritatively settled. If it were a settled
matter, then these theologians would not require the words of consecration to
be repeated, for the Sacrament would have already been confected.
Teologia Moral, livro 4, Trato 3,
por Santo Afonso de Ligório, doutor da Igreja (que escreveu 200 anos após a
publicação do Catecismo do Concílio de Trento):
"Na prática, é certo que o padre cometeria um pecado grave se ele não
pronunciou todas as palavras que tinha na consagração do cálice, e talvez se
ele tivesse dito as primeiras palavras apenas (Pois este é o cálice do meu
sangue ), ele é obrigado, pelo menos, repetir todo o formulário
condicionalmente ...."
Moral Theology, Book 4,
Tract 3 by St. Alphonsus Liguori, Doctor of the Church (who wrote 200 years
after the publication of the Catechism of the Council of Trent):
“In practice, it is
certain that a priest would sin gravely if he did not pronounce all the words
which are had in the consecration of the chalice; and if perhaps he had said
the first words only (For this is the Chalice of My Blood), he is bound at
least to repeat the entire form conditionally....”
Entre os teólogos que têm amplamente
tratado esta questão teológica, destaca-se Padre Maurice de la Taille ,
SJ, do Instituto Pontifício Gregoriano, em seu tratado teológico Mysterium Fidei (1931). Padre de la Taille aborda as duas opiniões sobre as palavras
essenciais para a consagração do vinho. Depois de ler o seguinte trecho de sua obra, veremos
claramente que a conclusão em conta da forma abreviada (Este é o meu sangue) é
errônea e que o assunto não foi resolvido com autoridade.
Among the theologians who have extensively treated this
theological issue, there stands out Fr. Maurice de la Taille , S.J., of the
Gregorian Pontifical Institute, in his theological treatise Mysterium Fidei (1931). Fr. de la Taille addressed the two
opinions regarding the essential words for the consecration of the wine. After
reading the following excerpt from his work, one will clearly see that Mike
Duddy’s conclusion in regard to the short form (This is My Blood) is erroneous
and that the matter has not been authoritatively settled.
Mysterium Fidei (1931), o Frei Maurice de la Taille ,
S.J.:
"É
certo, como todos admitem que as palavras: Isto é meu corpo, Este é o cálice do
meu sangue (ou outras palavras equivalentes), pelo qual é demonstrada a
presença do Corpo e do Sangue de Cristo sob a aparência do pão e do vinho, são
essenciais para a forma de consagração. Mas uma outra questão se coloca: se, para
além desta indicação do Corpo e do Sangue de Cristo, há necessidade, como parte
do formulário, e como parte essencial do mesmo, uma determinação do fim
propiciatório, em vista, como por exemplo, pelas palavras que indicam que
aquilo que é promulgado em símbolo é feito por nós,
para a remissão dos pecados.
“It is quite
certain, as all admit, that the words: This is My Body, This is the chalice of
My Blood (or other equivalent words), by which is demonstrated the presence of
the Body and the Blood of Christ under the appearance of the bread and the
wine, are essential to the form of consecration. But a further question arises:
whether, in addition to this indication of the Body and the Blood of Christ,
there is necessary, as a part of the form, and as an essential part of it, a
determination of the propitiatory end in view, as, for example, by words which
indicate that what is enacted in symbol is done for us, unto the remission of sins.
"Santo Tomás, depois de
Inocêncio III, em 3 S. 78,3, e de forma mais positiva ainda em I
Coríntios., II ,
lição 6, juntamente com todos os seus primeiros discípulos, a quem o
Salmanticenses cita com aprovação, mantém que estas palavras são essenciais (De Euchar. Sacram., disp. 9, dub.
E, para. 2, n. 22). Teólogos modernos,
na maior parte, na seqüência de São Boaventura (4 D. 8,2,1,2), negam que essas
palavras são essenciais.
“St. Thomas, after
Innocent III (whose words are quoted below), in 3 S. 78,3, and more positively
still in I Cor., II, lect
6, together with all his early disciples, whom the Salmanticenses quote with
approval, maintains that such words are essential (De Euchar. Sacram., disp. 9, dub. E, para. 2, n. 22).
Modern theologians for the most part, following St. Bonaventure (4 D. 8,2,1,2),
deny that such words are essential.
"Dois argumentos principais são dados para essa negação: um baseado em
princípios intrínsecos, o outro a partir de fontes dogmáticas positivas.
“Two main arguments are given for this denial: one
resting on intrinsic principles; the other drawn from positive dogmatic
sources.
"A primeira linha de raciocínio é a seguinte: a
conversão do pão no Corpo e o vinho no Sangue já tem significado bastante suficiente,
sem qualquer outra determinação do tipo mencionado: por isso, é efetuada sem
essa nova determinação adicional, porque nos Sacramentos o efeito de palavras é
o que eles significam.
“The first line of
reasoning is as follows: the conversion of the bread into the Body and the wine
into the Blood is quite sufficiently signified without any further
determination of the kind mentioned: therefore it is effected without this
further determination; because in the Sacraments the words effect what they
signify.
"A segunda razão é esta: nem as narrativas das
Escrituras, nem as liturgias concordam com o teor exato das palavras
determinantes. Portanto, elas
estão fora do âmbito da forma.
"No entanto,
nenhuma destas razões parece convincente.
“The second reason
is this: neither the Scripture narratives nor the liturgies agree as to the
precise tenor of these determinative words. Therefore they are outside the
ambit of the form.
“However, neither of
these reasons seems convincing.
"Tomando o
segundo argumento em primeiro lugar, nós encontramos uma suficiente refutação dele
no seguinte fato: em cada uma das liturgias, com a exceção de algumas etíopes
muito corrompidas (alguns dos quais são conhecidos aliunde serem inválidos), bem como algumas muito
degradadas produzidas pelos sírios cismáticos, encontramos invariavelmente,
transmitidos, além da demonstração separada do Corpo e do Sangue, uma indicação
da intenção propiciatória para que a separação simbólica de Corpo e do Sangue,
ou o derramamento de sangue por ele designada é feita. Portanto, temos,
em cada caso, um sentido equivalente nas fórmulas, e isso, que mantemos, é tudo
o que é necessário para assegurar a necessária uniformidade da forma como será
suficientemente provado pelo que temos a dizer imediatamente na refutação da
primeira objeção proposta acima, através do desenvolvimento de nosso próprio argumento
intrínseco, derivado da natureza das coisas.
“Taking the second
argument first, we find a sufficient refutation of it in the following fact: in
every one of the liturgies, with the exception of a few very corrupt Ethiopian
ones (some of which are known aliunde
to be invalid), as well as some very degraded productions of the Syrian
schismatics, we find invariably conveyed, besides the separate demonstration of
the Body and Blood, an indication of the propitiatory intention for which the
symbolic separation of Body and Blood, or the blood-shedding designated by it
is made. So we have, in every case, an equivalent sense in the formulae; and
this, we maintain, is all that is necessary to secure the necessary uniformity
of the form, as will be sufficiently proved by what we have to say immediately
in refutation of the first objection proposed above, by the development of our
own intrinsic argument, derived from the nature of things.
"Vindo, então, o primeiro argumento dos nossos
adversários, nós pensamos que é suficientemente refutado pelo desenvolvimento
do nosso próprio argumento. Mas primeiramente temos de pressupor que
não há nenhuma pergunta aqui do que Cristo poderia ter feito, se ele quisesse,
mas apenas o que Ele quis fazer. E é bastante claro que Ele quis oferecer o sacrifício.
Novamente a pergunta não é, aqui, se a
indicação do Corpo e Sangue de Cristo sob as aparências do pão e do vinho
seria, por si só, suficiente para significar (e, portanto, serviria, se nosso
Senhor, instituiu, para cumprir eficazmente) alguma presença real ou não, mas a
pergunta é: tal indicação significaria uma presença real na condição de
imolação pelo qual o sacrifício seria promulgado? E isso, ao que parece, devemos negar. Para a presença real do Corpo e Sangue de Cristo, sem dúvida, poderia ser
realizado pelas atuais palavras efetivas sem qualquer sacrifício, apenas porque
Cristo poderia, sem sacrifício, transformar em seu Corpo e em seu Sangue , qualquer
outro tipo de matéria (corporeas)
substâncial, tais como pedras, água, e assim por diante. Certamente, assim como Cristo poderia ter morrido, sem
ter a sua morte, o bom caráter de um sacrifício (como é o caso dos mártires),
por isso, também, Ele poderia ter nos deixado algum símbolo de sua morte em Seu Corpo e Sangue, até
ser comido por nós num banquete comum por meio de alimentos, por exemplo, com o
único propósito de promover a caridade entre nós, e tudo isso sem dedicar uma
vítima de Deus, ou sem qualquer ação propiciatória. Mas Cristo, de
fato, quis que essa conversão do pão e do vinho em seu Corpo e Sangue devesse
ser um sacrifício, pela transubstanciação, Ele quis oferecer um sacrifício, Ele
quis oferecer a transubstanciação, mas para fazer uma transubstanciação donde
ele mesmo fosse a Vítima de Deus ou Theothyte.
“Coming, then, to the first argument of our adversaries,
we think that it is sufficiently refuted by the development of our own
argument. But first we must presuppose that there is no question here of what
Christ could have done, if He willed, but only of what He did will to do. And
it is quite plain that He willed to offer sacrifice. Again the question is not,
here, whether the indication of the Body and Blood of Christ under the
appearance of bread and wine would of itself sufficiently signify (and
accordingly would avail, if our Lord so instituted, to accomplish effectively)
some real presence or not; but the question is: would such an indication
signify a real presence in the condition of immolation whereby the sacrifice
would be enacted? And this, it seems, we must deny. For the real presence of
the Body and Blood of Christ could undoubtedly be realized by the actual
effective words without any sacrifice whatever; just as Christ could, without
sacrifice, change into His Body and Blood any other kind of material (corporeas) substances, such as
stones, water and so on. Certainly just as Christ could have died without His
death having the proper character of a sacrifice (as is the case with the
martyrs); so, too, He could have left us some symbol of His death in His Body
and Blood, even to be partaken of by us at a common banquet by way of food, for
instance for the sole purpose of fostering charity amongst us, and all this
without dedicating a victim to God, or without any propitiatory action. But
Christ did in fact will that this conversion of the bread and wine into His
Body and Blood should be a sacrifice; by transubstantiation He willed to offer
sacrifice, He willed to offer the transubstantiation, but to make a
transubstantiation whence He Himself would issue as God’s Victim or Theothyte.
"Assim
sendo Sua vontade, a mera indicação do seu Corpo e Sangue não seria suficiente
para sua finalidade na linha da forma sacramental: para Ele não expressaria esta
finalidade, como já dissemos acima, era necessário que uma determinação
adicional fosse acrescentada a esta demonstração do Corpo e do Sangue, pela
qual ficaria claro que o que foi feito foi sacrificial, imolativo. E para isso, seria suficiente, se o trabalho realizado foi claramente designado
como propiciatório.
“This being His
will, the mere indication of His Body and Blood would not suffice for His
purpose in the line of sacramental form: for it would not express this purpose,
as we have said above; it was necessary that a further determination should be
added to this demonstration of the Body and Blood, by which it would be plain
that what was done was sacrificial, immolative. And for this it would be
sufficient if the work done were plainly designated as propitiatory.
"Ou seja,
bastaria que fosse claramente indicado que, para nós
o Sangue foi solicitado a partir do Corpo, e que a morte assim provocada foi
aproveitada por nós junto à Deus para a remissão dos pecados, sendo esta
expressa na fórmula do nosso Missal (qui pro
vobis et pro multis effundetur em peccatorum remissionem), ou por
qualquer outra fórmula equivalente, como já foi explicado por nós, III (Vol. I)
...
“That is to say, it
would suffice if it were plainly indicated that for us the Blood was asked from the Body, and that the
death so brought about availed for us before God unto the remission of sins,
whether this be expressed as in the formula of our Missal (qui pro vobis et pro multis effundetur in
remissionem peccatorum), or by any other equivalent formula, as
already explained by us in III (Vol. I)...
"Amicus, S.J., é ainda mais claro e
explícito (De Sacram.,
Disp. 24, n. 46): Você irá insistir: pelo menos as palavras por vós e por muitos não são
necessárias, visto que o caráter sacrificial é suficientemente declarado pela
expressão “que será derramado”.
Mas nós negamos a consequência. Pelo menos, o fim a que o
derramamento de sangue é direcionado deve ser expressado, O CARÁTER SACRIFICIAL
NÃO É EXPRESSADO, DESDE QUE O SANGUE FOI DERRAMADO, MAS NÃO POR VIA DO
SACRIFÍCIO: SE, POR EXEMPLO, FOSSE DERRAMADO NÃO COMO UM ATO DE ADORAÇÃO DA
PARTE DE NINGUÉM, NEM PARA O BENEFÍCIO DE NINGUÉM "[ênfase tirada
diretamente do livro].
“Amicus, S.J., is
even more clear and explicit (De
Sacram., disp. 24, n. 46): You will urge: at least the words for you, for many are not
necessary, seeing that the sacrificial character is sufficiently declared by
the words shall be shed.
But we deny the consequence. For unless the end
to which the blood-shedding is directed be expressed, THE SACRIFICIAL CHARACTER
IS NOT EXPRESSED, SINCE THE BLOOD COULD BE SHED, AND STILL NOT BE SHED BY WAY
OF SACRIFICE: IF, FOR EXAMPLE, IT WERE SHED NOT AS AN ACT OF WORSHIP ON THE
PART OF ANYONE NOR FOR THE BENEFIT OF ANY ONE” [emphasis taken directly from
the book].
Fr. Francis J.
Wengier, Ph.D., STD, em seu livro, O Sacrifício
eucarístico (1955) reiterou esta mesma opinião de que as palavras
que se seguem a "Porque este é o cálice do meu sangue" são
necessárias para indicar que a consagração é sacrifício ou propiciatório:
Fr. Francis J. Wengier, Ph.D., S.T.D., in his book, The Eucharistic Sacrifice (1955)
reiterated this same opinion that the words which follow “For this is the
chalice of My Blood” are necessary in order to signify that the consecration is
sacrificial or propitiatory:
"É
por isso que sua consagração ou transubstanciação tinha que ser e foi
sacrificial ou propiciatória. E ele manifestou claramente o caráter
expiatório da sua consagração pela expressão: "quod pro vobis tradetur" - "que será
entregue por vós" e "qui
pro vobis et pro multis effundetur in remissionem peccatorum"
- "que será
derramado por vós e por muitos para a remissão dos pecados”. Conseqüentemente,
nós, também, devemos usar as mesmas palavras ou o seu equivalente. Devemos expressar
claramente o caráter expiatório ou sacrificial da nossa consagração, porque a
nossa missa é o mesmo sacrifício de Cristo renovado por nós, como o Concílio de
Trento ensina e como é evidente a partir da própria instituição. Uma fórmula simples que demonstra a presença do Corpo e Sangue de Cristo sob as
espécies não nos diz se o que Cristo fez ou o que fazemos é um sacrifício ou
não. Portanto, além das palavras demonstrativas, a nossa forma de consagração
necessita de outras palavras, que determinam a finalidade da efusão do sangue,
que é a destruição do pecado. Esta doutrina de Santo Tomás e seus seguidores,
Henricus Henriquez, Amicus e outros, está em perfeita harmonia com a natureza
da nossa Missa.
“That is why His
consecration or transubstantiation had to be and was sacrificial or
propitiatory. And He clearly expressed that propitiatory character of His
consecration by the words: “quod
pro vobis tradetur” — “which shall be delivered for you” and “qui pro vobis, et pro multis effundetur in
remissionem peccatorum” —”which shall be shed for you and for many
unto the remission of sins.” Consequently, we, too, must use the same words or
their equivalent. We must clearly express the propitiatory or sacrificial
character of our consecration, because our Mass is the same Sacrifice as that
of Christ renewed by us, as the Council of Trent teaches and as it is clear
from the institution itself. A simple formula demonstrating the presence of
Christ’s Body and Blood under the species does not tell us whether that which
Christ did or what we do is a sacrifice or not. Therefore, besides the
demonstrative words, our consecration form needs other words determining the
purpose of the Blood’s effusion, which is the destruction of sin. This doctrine
of St. Thomas and his followers, Henricus Henriquez, Amicus, and others, is in
perfect harmony with the nature of our Mass.
"Não é necessário expressar essa teleologia em
ambas as consagrações. Nossa forma Latina
omite o 'quod pro vobis tradetur’ na
consagração do pão. Ela prefere dar a
teleologia seu lugar formal, a saber, na consagração do vinho, que se transforma
em sangue, aparentemente separado (na única espécie!) do corpo, formalmente
significando sua morte - morte que, posteriormente, determina a nossa fórmula,
adicionando a finalidade desta morte: ‘pro vobis
... pro multis ... in
remissionem peccatorum.’
“It is not necessary to express that teleology in both
consecrations. Our Latin formula omits the ‘quod
pro vobis tradetur’ in the consecration of the bread. It prefers to
give to the teleology its formal place, namely, in the consecration of the
wine, which being changed into Blood apparently separated (in the species
only!) from the Body, formally signifies its death — death which subsequently
our formula determines, adding the purpose of this death: ‘pro vobis... pro multis ... in remissionem
peccatorum.’
"A transubstanciação, então, não é suficiente por
si só, para uma Missa. Deve ser uma transubstanciação sacrificial, expressando
uma oblação feita a Deus pelos pecados. Esta expressão peculiar
deve ser verbal (e não apenas mental), pois é parte integrante do formulário do
sacrifício eucarístico, e cada sacrifício (no sentido estrito) é um ato externo
do culto de adoração, significando a dedicação interna ".
“The transubstantiation, then, is not sufficient by
itself for a Mass. It must be a sacrificial transubstantiation, expressing an
oblation made to God for sins. This peculiar expression must be verbal (not
only mental), because it is an integral part of the form of the Eucharistic Sacrifice,
and every sacrifice (in the strict sense) is an external act of worship,
signifying the internal dedication.”
Uma última consideração para
demonstrar que a forma abreviada da consagração do vinho não foi determinada com
autoridade pode ser encontrada nos ensinamentos do Papa Bento XIV (reinado
papal: 1740-1758). Em nota de rodapé, após o ensino acima citado de Santo Afonso de Ligório, em A Sagrada Eucaristia , afirma-se:
One last consideration to demonstrate that the short form
of the consecration of the wine has not been authoritatively determined can be
found in the teachings of Pope Benedict XIV (papal reign: 1740-1758). In the
footnote following the above-quoted teaching of St. Alphonsus Liguori in The Holy Eucharist, it is stated:
"De Miss. Sacr. 1.2, c.15. - Bento XIV aqui observa que Santo Tomás
(p. 3, q. 18, a .
3) parece estar a favor da opinião daqueles que fazem a forma essencial da
consagração do cálice consistir em todas as palavras que o sacerdote pronuncia até
o ‘Haec quotiescumque’,
porque as palavras que se seguem, ‘Hic est
enim calix Sanguinis Mei’, são praedicati
determinationes (determinações do predicado), ou seja, Sanguinis Christi (do Sangue de
Cristo) e, conseqüentemente, pertencentes ad
integritatem ejusdem locutionis (para
a integridade das mesmas palavras), são de
substantia formae (do conteúdo do formulário). São Pio V fez com que a opinião contrária fosse apagada do comentário de
Caetano." (Caetano era da opinião de
que a forma curta seria suficente.- Nt. do trad.)
“De Miss. Sacr. 1.2, c.
15. — Benedict XIV here observes that St. Thomas (P. 3, q. 18, a . 3) seems to favor the
opinion of those who make the essential form of the consecration of the chalice
consist in all the words that the priest pronounces as far as Haec quotiescumque; because the
words that follow, Hic est
enim calix Sanguinis Mei, are determinationes
praedicati, (determinations of the predicate) that is to say, Sanguinis Christi (the Blood of
Christ), and consequently, belonging ad
integritatem ejusdem locutionis (to the integrity of the same
words), are de substantia formae
(of the substance of the form). St. Pius V caused the contrary opinion to be
erased from the commentary of Cajetan.”
5 - OS PAPAS ENSINARAM QUE A IGREJA NÃO
TEM AUTORIDADE PARA MODIFICAR A “SUBSTÂNCIA DOS SACRAMENTOS”
Os papas até S.S Pio XII,
ensinaram que a Igreja não tem autoridade para modificar a substância dos
sacramentos instituídos por Nosso Senhor Jesus Cristo. Vejamos primeiramente o
ensinamento de Pio XII:
“(...) E a estes sacramentos instituídos pelo Cristo
Senhor, a Igreja não substituiu nem pôde substituir outros sacramentos, pois
segundo o Concílio de Trento os sete sacramentos da Nova Lei foram todos
instituídos por Jesus Cristo Nosso Senhor, e
à Igreja não compete nenhum poder sobre a ‘substância dos sacramentos’,
isto é, sobre aquilo que, conforme o testemunho das fontes da revelação, o próprio Cristo senhor estabeleceu
como devendo ser observado no signo sacramental. (…)” (Constituição Apostólica
“Sacramentum Ordinis”, 30 nov. 1947 –
Dz 3857)
Vejamos agora o que ensinou o Papa São Pio X:
“(…) E nem mesmo … se deixa intacta a doutrina
católica sobre o Santíssimo Sacramento da Eucaristia, sendo que audaciosamente
se ensina que se pode acolher a opinião que defende que entre os gregos as
palavras da consagração não surtem efeito a não ser depois de pronunciada a
oração chamada epiclese, enquanto, ao contrário, seguramente consta que à Igreja não compete de todo inovar
nada acerca da substância mesma dos sacramentos; - e não menos dissonante é
que deva ser tida como válida a confirmação conferida por qualquer presbítero”
(…) (Carta “Ex quo nono” aos
delegados apostólicos em Bizâncio, na Grécia, no Egito, etc, 26 dez. 1910 – Dz
3556)
O Concílio de Trento ensinou:
“(…) O santo Sínodo declara que a Igreja teve sempre o
poder de, na administração dos sacramentos, salva a substância, estabelecer ou mudar o que julgasse mais
conveniente à utilidade de quem recebe … (…)” ( Seção 21 – Sobre a comunhão -
Dz 1728)
O Papa Clemente VI interroga
os católicos armênios no ano de 1351, se este crêem na seguinte verdade da
doutrina católica:
“(…) Se tens crido e ainda crês que o Romano
Pontífice, no que diz respeito à administração dos sacramentos da Igreja, salvo o que pertence à integridade e
obrigatoriedade dos sacramentos, pode tolerar os diversos ritos das Igrejas
de Cristo e permitir que sejam conservados; (…)” (Carta “Super quibusdam” a Mekhithar Katholikós dos armênios – Dz 1061)
Também o grande Papa Leão
XIII, nos deixou um firme ensinamento a este respeito, quando condenou as
ordenações anglicanas:
“(…) A este defeito
íntimo de forma está ligado o
defeito de intenção, pois esta é igualmente postulada como necessária para
que haja sacramento. A Igreja não julga sobre o propósito ou intenção sendo, em
si, algo interior; mas, desde que se
manifesta exteriormente, deve julgar. Pois bem, quando alguém, para
administrar e conferir um sacramento, empregou séria e devidamente a matéria e forma
requeridas, precisamente por isso se julga que teve a intenção de fazer o que
faz a Igreja. Sobre este princípio se apóia justamente a doutrina de que é
verdadeiramente sacramento o que é administrado – desde que no rito católico –
por ministério de um herege ou de um não-batizado.
Ao contrário, se
o rito é mudado para introduzir outro, não aprovado pela Igreja, e para excluir o que faz a Igreja e, pela instituição de Cristo, pertence à
natureza do sacramento, então está claro que não só falta a intenção necessária ao sacramento, mas que até foi incluída
uma intenção contrária ao sacramento
e incompatível com ele.(…)” (Carta “Apostolicae curae et caritatis”, 13 set.
1896 – Dz 3318)
6) COMPARAÇÃO ENTRE AS FORMAS DE
CONSAGRAÇÃO
Dito tudo isso acima, onde
parece termos deixado claro que a expressão “mysterium fidei” só faz sentido se for pronunciada em seu lugar de
origem, vejamos as diferenças nas formas entre o Ordo Missae de Paulo VI e o de
São Pio V:
Novus ordo de Paulo VI:
Qui, pridie quam pateretur, accepit panem in sanctas
ac venerabiles manus suas, et elevatis oculis in caelum ad te Deum Patrem suum
omnipotentem, tibi gratias agens benedixit, fregit, deditque discipulis suis,
dicens:
ACCIPITE ET MANDUCATE EX HOC OMNES: HOC EST ENIM CORPUS MEUM, QUOD PRO VOBIS TRADETUR.
Simili modo, postquam cenatum est, accipiens et hunc praeclarum calicem in sanctas ac venerabiles manus suas, item tibi gratias agens benedixit, deditque discipulis suis, dicens:
ACCIPITE ET BIBITE EX EO OMNES: HIC ENIM CALIX
SANGUINIS MEI NOVI ET AETERNI TESTAMENTI, [:????????? ?????:], QUI PRO VOBIS ET PRO MULTIS EFFUNDETOR IN
REMISSIONEM PECCATORUM. HOC FACITE IN
MEAM COMMEMORATIONEM.
Mysterium fidei.
(fonte: site do Vaticano)
Ordo Missae
de São Pio V:
Qui prídie quam paterétur, accépit panem
in sanctas ac venerábiles manus suas, et elevátis óculis in coelum ad te Deum,
Patrem suum omnipoténtem, tibi grátias agens, bene ✠
dixit, fregit, dedítque discípulis suis, dicens: Accípite, et manducáte ex hoc
omnes.
Hoc est enim Corpus meum.
Símili modo postquam coenátum est,
accípiens et hunc præclárum Cálicem in sanctas ac venerábiles manus suas: tibi
grátias agens,
bene ✠ dixit, dedítque discípulis suis, dicens:
Accípite, et bíbite ex eo omnes.
Hic est enim Calix Sanguinis mei,
novi et ætérni testaménti : mystérium fídei : qui pro vobis et pro multis
effundétur in remissiónem peccatórum.
Hæc quotiescúmque fecéritis, in mei
memóriam faciétis.
(fonte:
Missale Romanum de São Pio V)
Pela comparação das formas,
constatamos o artifício dos modernistas aplicado na escrita do novo missal:
para que os simples fiéis e os clérigos zelosos não percebessem a má intenção a
que aspiravam esses fautores do erro, trataram de expor em LETRAS MAIÚSCULAS
não somente as palavras da forma (como no missal de São Pio V), mas também
outras palavras, incluindo desde o “tomai
todos e bebei” até o “fazei isto em
memória de mim”, como se estas outras palavras também fizessem parte da
forma, omitindo todo o uso que a Igreja fez durante séculos em todos os missais
anteriores à 1.969. Com este recurso de engano conseguiram atingir o objetivo
que desejavam: transferir a expressão “mistério da fé” para o lado de fora da
consagração sem que ninguém o percebesse. Não poderiam simplesmente omitir o
“mistério da fé”, pois os bispos e padres zelosos pela doutrina logo
perceberiam suas más intenções. Com este recurso conseguiram o falso efeito
visual de que nada estaria sendo omitido da forma, mas somente uma simples
troca acidental no local de inserção da expressão. Assim conseguiram “abrir um
caminho” através do ‘FAZEI ISTO EM MEMÓRIA DE
MIM ’, para daí lançarem fora da forma o “MISTÉRIO DA FÉ”.
Como esta expressão foi
inserida logo após o “fazei isto em memória de mim” deu-se a impressão, ao
menos auditiva, de que ela ainda faria parte da forma, apesar do longo momento
de silêncio existente entre as duas expressões; impressão inexistente no que se
refere ao modo escrito, no qual a expressão vem em letras minúsculas. Omitindo
a expressão “mistério da fé”, eles fizeram nada mais, nada menos do que mudarem
a forma instituída por Cristo e usada pela Igreja em quase dois mil anos,
caindo em todas as condenações previstas pelos santos padres a respeito deste
assunto. Aliás, o próprio Paulo VI, na sua anti-constituição Missale Romanum, admitiu que a expressão
foi “tirada do contexto das palavras de Cristo”. Vejamos:
“(...) A
expressão "Mysterium fidei", tirada do contexto das
palavras de Cristo e proferida pelo sacerdote, serve de preâmbulo à
aclamação dos fiéis” (Constituição Missale
Romanum de Paulo VI – 03 de abril de 1969).
Este reconhecimento é
tremendo!!!! Tu o disseste, Paulo VI! Mas o que ele diria se fosse confrontado
com os textos que ora apresentamos mostrando que alterar esta expressão
significa destruir a forma? A verdade, porém, não interessa a estes lobos.
Seria melhor se confessassem não terem feito só uma, mas duas coisas distintas:
1) diminuíram, ou seja, omitiram a expressão “mistério
da fé”, e com isso mudaram a forma da consagração, instituída pelo próprio
Cristo.
2) adicionaram posteriormente esta expressão não
dentro, mas fora do conjunto das palavras consacratórias, pois as palavras
“fazei isto em memória de mim”, não fazem parte da forma, mas referem-se ao uso
do sacramento. Assim conseguiram alterar o sentido da forma.
A partir destas alterações
concederam às palavras “fazei isto em memória de mim” um sentido nunca antes
dado a elas, ou seja, o “mistério da fé” já não seria um efeito da
transubstanciação do sangue – como explica Santo Tomás – mas dali em diante o
“mistério da fé” seria o fazer memória da última ceia, ou seja, “Fazei isto em
memória de mim”, eis o (que é) mistério da fé. Mas não seria esta a doutrina
protestante que nega a presença real, afirmando ser a Ceia somente um fazer
memória de Cristo, já condenada por Inocêncio III na explicação que ele dá ao arcebispo
João de Lião? Qual motivo teria levado a esta mudança? O ecumenismo? Ou
realmente passaram a adotar a herética doutrina protestante? Não os teria
atemorizado o saber que esta alteração no sentido da forma pudesse fulminá-los
pela seguinte condenação tridentina:
Can.3. Se alguém disser que o sacrifício da
Missa é somente de louvor e ação de graças, ou mera comemoração do sacrifício consumado na cruz, mas que não é
propiciatório, ou que só aproveita ao que comunga, e que não deve se oferecer
pelos vivos e defuntos, pelos pecados, penas, satisfações e outras necessidades
– seja excomungado.
Mesmo os padres da FSSPX parecem entender a
maldade desta mudança:
“15. Há uma modificação litúrgica
característica desta divergência o ter mudado de lugar a expressão Mysterium fidei, “Mistério da Fé”.
Colocada no coração da consagração no missal tradicional, foi tirada daí no
novo missal, para que sirva como introdução às aclamações da anamnese. Deste
modo, muda seu significado:
- O missal tradicional, ao pôr essa expressão no
centro mesmo das palavras da consagração, suscita
o ato de fé na presença de Cristo realizada pela transubstanciação, e marca
o cume da missa: aí está o sacrifício,
ao estar presente Cristo em estado de imolação, e ao significarem as espécies
do pão e do vinho a separação do corpo e do sangue de Cristo no momento de sua
paixão.
- No novo missal , o Mysterium Fidei já não é o indicado pela consagração sacrifical,
mas todo o conjunto dos mistérios da vida de Cristo, proclamados de modo comemorativo: “Eis o mistério da fé.
Anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde,
Senhor Jesus!” A segunda aclamação a escolher (ad libitum) separa de modo claro Mysterium fidei da consagração, viculando-o à comunhão: “Todas as
vezes que comemos deste pão e bebemos deste cálice, anunciamos, Senhor, a vossa
morte enquanto esperamos a vossa vinda”.
Esta mudança desloca
o centro de gravidade da missa e manifesta a diferença fundamental que há
entre o missal tradicional e o novo. Para o primeiro a missa é oferenda
sacrifical da presença transubstanciada, ao passo que o segundo a entende como
memorial da Páscoa de Cristo” ( O
problema da reforma litúrgica – FSSPX – Editora Permanência - págs. 29-30)
Dom
Marcel Lefebvre:
A “Confissão de Augsburgo”, protestante, viu bem o
novo rito da Missa, ao declarar: “Nós fazemos uso das novas preces eucarísticas
(católicas) que têm a vantagem de pulverizar (reduzir a pó) a teologia do
Sacrifício” (L’Eglise d’Alsace, dez/73 e Jan/74, conferência em Florença sobre
a “A Missa de Lutero”).
Podemos ainda refletir sobre
este trecho de um trabalho feito pelo "Cardeal" Alfons
Stickler, Prefeito emérito da Biblioteca Vaticana e de seus arquivos. De
acordo com o site Montfort ele "atuou como especialista, como perito na
Comissão de Liturgia do Concílio Vaticano II. Foi elevado ao Colégio
Cardinalício por João Paulo II em l985". Vejamos o que ele diz:
"É pertinente assinalar uma mudança muito séria
na fórmula da consagração do vinho no Sangue de Cristo: as palavras Mysterium fidei foram eliminadas, e enxertadas logo depois como uma exclamação conjunta com o povo, o que foi um golpe para a "actuosa
participatio".
Que diz expressamente a investigação histórica que o
Concílio ordenou como prévia realização de qualquer mudança? Que essas palavras
datam das primeiras tradições da Igreja Romana que nos são conhecidas, que nos
foram transmitidas por São Pedro. São Basílio, que através de seus estudos em
Atenas estava certamente familiarizado com a tradição ocidental, diz a
propósito das fórmulas de todos os sacramentos, que não tinham sido escritas
nas bem conhecidas sagradas escrituras dos apóstolos e seus sucessores e discípulos,
por motivo da disciplina de segredo que então imperava, pelo qual os mais
sagrados mistérios da Igreja não deviam estar ao alcance dos pagãos. Diz
expressamente, como todas as testemunhas do cristianismo, que participam da
mesma convicção, que além dos ensinamentos escritos que nos foram entregues,
temos outros que in mysteria tradita sunt
e que datam da época dos apóstolos; diz que ambos têm o mesmo valor, e que
ninguém deve contradizer nenhum dos dois. Como exemplo, cita expressamente as
palavras pelas quais o Pão Eucarístico e o Cálice da Salvação são consagrados. Que
os santos nô-las entregaram escritas?
São Tomás diz que as palavras "mysterium fidei" são de tradição
divina.
Todos os subseqüentes períodos da história testemunham
expressamente sobre esta herança histórica na fórmula da Consagração
Eucarística: o Sacramentário gelasiano –o Missal mais antigo da Igreja Romana–
contém no códice vaticano, no texto original, as palavras “mysterium fidei”, e não como uma adição posterior.
Sempre se perguntou sobre a origem dessas palavras. Em 1202, João, Arcebispo emérito de Lião, perguntou ao Papa Inocêncio III, cujos conhecimentos litúrgicos eram bem conhecidos, se alguém devia crer que as palavras do cânon da Missa, que não provém dos evangelhos, foram transmitidas por Cristo e os apóstolos a seus sucessores. O Papa respondeu numa longa carta de Dezembro desse ano que devemos crer que essas palavras, que não estão nos Evangelhos, foram recebidas de Cristo pelos apóstolos, e deles passaram a seus sucessores. O fato de que este decretal (incluído na coleção de cartas decretais de Inocêncio III e que foi compilado por Raimundo de Peñaforte por ordem do Papa Gregório IX) não foi excluído como o foram outras, prova o prolongado valor outorgado a essa afirmação do grande Papa.
São Tomás fala largamente deste
tema na Summa Theologiae III, q. 78,art. 3, sobre as citadas palavras da
consagração do vinho. Explicando a arcana necessária disciplina da antiga
Igreja, diz que as palavras ¨mysterium
fidei¨ vêm de tradição divina, que foi entregue à Igreja pelos apóstolos,
fazendo especial referência a 1 Cor. 10(11) -23 e a 1 Tim. 3-9. Um comentarista
se refere a DD Gousset na edição de 1939 de MARIETTI : ¨seria um
grandíssimo erro substituir uma outra forma eucarística àquela do Missal Romano
... suprimir por exemplo a palavra aeterni e aquela expressão mysterium fidei que recebemos da
tradição¨. Também o Concílio de Florença, na bula de união com os Jacobitas,
acrescenta expressamente a fórmula da consagração na Santa Missa, que a Igreja Romana sempre usou
fundando-se no ensinamento e autoridade dos apóstolos Pedro e Paulo.
Estranha-se a maneira sumamente desdenhosa pelas quais o Cardeal Lercaro e P. Bugnini prescindiram da obrigação de empreender uma investigação histórica e teológica detalhada no caso de uma mudança tão fundamental. Se semelhante coisa aconteceu a esse respeito, como terão cumprido essa obrigação fundamental antes de fazer outras mudanças?
A Eucaristia não é apenas o mistério único de nossa
fé, é também um mistério perdurável, do qual sempre devemos permanecer
conscientes. Nossa vida eucarística de todos os dias requer um intermediário
que abrace completamente esse mistério – sobretudo na idade moderna, na qual a
autonomia e auto glorificação do homem moderno resistem a todo conceito que vá
mais além do conhecimento humano, que lhe recorde suas limitações. Cada
conceito teológico se transforma, para ele, em um problema, e a liturgia,
especialmente como suporte da fé, se torna permanentemente objeto de
desmistificação, isto é, para humanizá-la ao ponto de fazê-la absolutamente
compreensível. Por essa razão, o desaparecimento do mysterium fidei
da fórmula eucarística se converte num símbolo poderoso de desmitologização, um
símbolo da humanização do que é central no culto divino, a Santa Missa.”
http://www.montfort.org.br/index.php?secao=veritas&subsecao=igreja&artigo=concilio_novus_ordo&lang=bra
Este ensaio apareceu originalmente em Die heilige Liturgie (Steyr, Áustria: Ennsthaler Verlag, 1997, Franz Breid ed). O presente documento é uma tradução da versão em inglês aparecida em Dezembro de 1998 na revista norte americana "Latin Mass", levada a cabo por Thomas E. Woods, Jr., a pedido do próprio Cardeal Stickler.
Alem destes ensinamentos, podemos refletir também nos
seguintes pontos:
Canon 817 do
Código de Direito Canônico de 1917:
“Não se pode, nem ainda em caso de necessidade urgente
e extrema, consagrar uma matéria sem a outra, ou consagrar ambas fora da
celebração da Missa”.
Alterando o sentido do
“Mistério da Fé” na forma, o vinho não é consagrado e não estando consagrado,
ficaria daí proibida a consagração do
pão.
Canon 1399
– “Estão proibidos pelo mesmo direito:
10º. As edições dos livros litúrgicos aprovados pela
Sé Apostólica em que se tenha alterado
alguma coisa, de tal sorte que não concordem com as edições autênticas
aprovadas pela Santa Sé;”
Os livros litúrgicos da missa
nova são “em tese” aprovados pela “Sé Apostólica” pós-conciliar, mas não estão
concordes com as edições autênticas aprovadas pela Santa Sé pré-conciliar,
sendo portanto proibidos.
O Concílio de Trento também condena a seguinte
afirmação:
Can.6 – Se alguém disser que o Cânon da Missa contém
erros e por isso se deve ab-rogar – seja excomungado.
Com certeza absoluta o Cânon
da Missa a que se refere o Concílio de Trento é o do Missale Romanum de São Pio
V. O missal de Paulo VI modificou o cânon da missa de São Pio V, que era isento
de erros. Porventura estaria o Cânon da Missa do Missale Romanum de São Pio V
com algum erro, para que Paulo VI o alterasse?
7) FORMA COMPLETA, FORMA ESSENCIAL e
FORMA do NOVUS ORDO
Pela doutrina exposta nas
linhas acima fica evidente que para o rito latino a expressão “mistério da fé”
é de suma importância, pois faz parte da forma completa que foi definida com
muita precisão pelo Concílio de Florença. Porém, é preciso reconhecer que segundo
alguns teólogos sua omissão não invalidaria a consagração. Apesar disso, vários
teólogos sustentam que nem todas as palavras usadas pela Igreja Latina seriam necessárias
para a realização da transubstanciação, mas somente as principais, donde surgiu
o termo denominado: forma essencial. Eles fazem esta distinção com muita razão,
pois nem todos os ritos aprovados pela Igreja usam na consagração do vinho a
forma completa utilizada pelo rito latino, que, como já vimos anteriormente,
foi transmitida pelo próprio Cristo aos Apóstolos, e estes aos seus sucessores.
A causa deste fato envolve a Tradição Oral, que por vezes, não conseguiu chegar
integralmente em todos os ritos, salvo o latino.
A forma dita essencial se
resume nas seguintes palavras: “Isto é o
meu corpo” e “Este é o cálice do meu
sangue”. É muito importante ressaltar que no rito latino não é lícita a
utilização desta forma essencial para a consagração, pois o celebrante
cometeria um pecado grave por omitir o restante da forma, devendo repetir condicionalmente
todo o formulário, conforme manda o decreto De
Defectibus acima citado.
Eis o que ensina o CMRI sobre as
palavras de consagração:
“A omissão das palavras “mysterium fidei” não invalida a forma. No caso de serem omitidas
todas as palavras, começando por “novo e eterno” até o final “pecados”, a forma
teria que ser repetida porque, devido a opinião de teólogos importantes, a
forma provavelmente seria inválida. Mas o mesmo não pode ser dito da omissão de
uma ou duas palavras, e alguns teólogos pensam que a repetição das palavras
consacratórias seria ato ilícito se só fossem omitidas uma ou duas palavras,
como “mysterium fidei” (cf. Lehmk,
II, 129; Genicot, II, 110)”.
Portanto teríamos que
concordar que, numa primeira análise, a simples omissão da expressão “mistério
da fé” não invalidaria a consagração. Mas não teríamos de ser concordes quando
esta fosse posteriormente inserida com a maléfica intenção de alterar o sentido
da Missa. Assim nos surge a seguinte pergunta:
De acordo com a argumentação acima citada de que a
omissão da referida expressão não acarretaria a invalidade da consagração, porque
então a forma do novus ordo (ao menos
em latim) seria considerada inválida já que ela conserva todo o formulário,
omitindo somente a citada expressão “mistério da fé”?
Resposta:
Surge aqui o ponto chave da
questão. A expressão “mistério da fé”, no novus
ordo é omitida do seu local de origem (de dentro do formulário) para ser
inserida somente após as palavras “fazei isto em memória de mim”, que não fazem
parte da forma (como reconhece o “Cardeal” Stickler), ou seja, fora do
formulário.
Esta simples alteração feita
propositalmente dá um novo sentido às palavras “fazei isto em memória de mim”
que passam agora a ser o “mistério da fé”, enquanto que na verdade o “mistério
da fé” deveria ser a transubstanciação do vinho no sangue de Cristo, como está
no imortal rito de São Pio V.
Assim temos três formas:
1)
a completa,
definida pelo Concílio de Florença.
2)
a dita essencial,
que mesmo admitida como válida, seria ilícita no rito latino, condicionando o
celebrante a repetir novamente toda a forma sob risco de pecado mortal.
3)
a pseudo-forma do
novus ordo, inválida por alterar o sentido das palavras consacratórias,
transformando o que deveria ser a renovação do sacrifício da cruz em simples
comemoração da última ceia.
8) CONCLUSÃO
Muitas maneiras poderiam ser
utilizadas para invalidar a consagração no rito latino. Escolheram o modo mais
sutil e mais eficaz de todos para conseguirem seu objetivo sacrílego: Retirar a
expressão “:Mistério da Fé: ” do
centro da forma do Sacramento e inseri-la fora do formulário com uma profunda
alteração de sentido. Palavras estas ditas por Nosso Senhor Jesus Cristo na
instituição deste sacramento. Transmitidas pelos Apóstolos aos seus Sucessores.
Solenes pelo Concílio de Florença. Canonizadas pelo célebre Catecismo Romano.
Essenciais pelo Decreto Defectibus do Missale Romanum de São PioV. Fontes do
Código de Direito Canônico. Defendidas pelo Doutor Angélico na Suma Teológica.
Ensinadas por São Pio X, nosso último papa canonizado. Confirmadas pelo Santo
Ofício. Eternizadas pelo uso constante da Igreja nos séculos.
Negar a fé na
transubstanciação, negar a fé no Sacrifício da Missa, negar a fé na presença
real de Cristo na Eucaristia, negar o sobrenatural – oculto, e afirmado pela
Fé!
Negar o segundo efeito da
Paixão de Cristo, o Mistério da Fé, pelo qual somos justificados, lavados no
sangue de Cristo, como explica Santo Tomás em seu comentário acima citado.
Bastava-lhes negar isso, para que os outros dois efeitos também fossem negados.
Pois é pela Fé na Paixão de Cristo que somos justificados, daí remidos nossos
pecados(1), temos acesso ao santuário eterno do novo testamento(3).
Por isso os dois pontos de
cada um dos lados desta expressão no Missale Romanum, indicando explicitamente
que os outros dois efeitos estavam intimamente ligados com o “mistério da fé”:
“... , do
novo e eterno testamento
(3)
|
← : mistério
da fé: →
(2)
|
que será
derramado por vós e por muitos para remissão dos pecados.”
(1)
|
Retirado dali o “mistério da
fé”, ficou aberta a porta para a simples narração, para o fazer memória, para a
comemoração da ceia, para o ecumenismo com aqueles que não tem Fé, pois negam o
sacrifício, negam o “mistério da fé” na transubstanciação, acreditando somente
na simples comemoração . Omitiram e adicionaram apenas duas palavras, justamente
as que não estão nas Escrituras, mas que nos vem por Tradição.
Duas palavras tão simples,
mas tão significativas, que se utilizadas com má intenção tem a eficácia de
alterar todo o sentido da Missa. Perde-se o significado da forma e com isso a
validade do sacramento.
Mas estes que perderam a Fé não contavam com o
cumprimento da promessa infalível que Nosso Senhor Jesus Cristo havia feito aos
discípulos pouco antes de sua ascensão: “Estarei convosco todos os dias até a
consumação dos séculos”. Nosso Senhor prometeu estar com a sua Igreja todos os
dias até o fim do mundo, e apesar de todas as investidas infernais, conservou a
Missa Católica em alguns poucos lugares, onde ainda existe a Fé, e é celebrada
conforme sua divina instituição.
U.I.O.G.D.
Obs.01 - Recomendamos vivamente a leitura da polêmica
entre o Pe. Tommasi e o Pe. Kevin Vaillancourt que pode ser encontrada no
seguinte endereço:
Notas:
(1)
Canon
nº 818
“O sacerdote que celebra deve observar com cuidado e devoção
as rúbricas de seus livros rituais, e deve guardar-se de adicionar a seu
arbítrio outras cerimônias ou preces, ficando reprovado todo costume
contrário.”
Fontes deste canon no
Código:
Concílio de Trento, sessão XXII, O sacrifício da Missa, cap.
5, can 7,9; Missale Romanum, tit. Rubricae
generales missalis; tit. Ritus
servandus in celebratione missae; tit. De
defectibus in celebratione missarum ocorrentibus; tit. Ordo missae; tit. Canon
missae.(foram expostas aqui somente as principais fontes)
Os autores deste trabalho poderão ser contatados pelos
seguintes emails: