Do motu proprio "Doctoris Angelici" de São Pio X:

"Nenhum Concílio celebrado posteriormente à santa morte deste Doutor, deixou de utilizar sua doutrina. A experiência de tantos séculos põe de manifesto a verdade do que afirmava Nosso Predecessor João XXII: «(Santo Tomás) deu mais luz à Igreja que todos os demais Doutores: com seus livros um homem aproveita mais em um ano, que com a doutrina dos outros em toda sua vida» "(Alocução no Consistório, 1318.)

DA "LECTURA SUPER MATTHAEUM" DE SANTO DE TOMÁS DE AQUINO:

Comentando sobre a Grande Aflição que haverá no mundo durante o período em que a "Abominação da Desolação" estiver ocupando o Lugar Santo, escreve o Angélico:

"Em seguida, haverá uma grande tribulação, porque o ensino cristão será pervertido por um falso ensino. E se esses dias não tivessem sido abreviados, ou seja, através do ensino da doutrina, da verdadeira doutrina, ninguém poderia ser salvo, o que significa que todos seriam convertidos à falsa doutrina."
[Comentário de Santo Tomás de Aquino ao Evangelho de São Mateus - Cap.24,22 - notas de Pierre d'Andria (1256-1259),(630 pags.) Tradução ao francês por Professor Jacques Ménard e Madame Dominique Pillet (2005).]

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

SACRAMENTOS, MILAGRES E A RC[C]

Por Rodrigo Santana



O OUTRO LADO DA HISTÓRIA

Durante meus quase dez anos de participação ativa na RCC, aprendi em várias formações que os carismas extraordinários deveriam ser utilizados na evangelização, pois eles seriam os sinais que acompanhariam a pregação da palavra de Deus e confirmariam que Deus havia tocado no coração daquele fiel através do “Batismo no Espírito Santo” e à partir desse momento a pessoa haveria de ser um verdadeiro convertido à Deus.
Sempre acreditei nesta doutrina de que os carismas extraordinários são para o uso atual, e que a Igreja Católica havia deixado de utilizá-los porque havia se tornado uma igreja institucional, ritualística e hierárquica.
Passados então nove anos de participação neste movimento, comecei a estudar a Doutrina Católica sobre este tema da “atualidade dos carismas extraordinários” e percebi que tudo aquilo que havia aprendido e acreditado era totalmente incompatível com a Doutrina Católica, para não dizer ainda, que a maioria das doutrinas que aprendi na RCC haviam sido mentiras e enganações.
Meu primeiro e mais forte “choque”, foi quando estudei no Catecismo Romano, no capítulo sobre os Sacramentos em Geral, o seguinte trecho:
(...)
"Para remover dos ânimos dos fiéis toda a dúvida que jamais pudesse surgir acerca desse efeito sacramental, quis a bondade de Deus que, nas primeiras administrações, os efeitos internos fossem provados por meio de milagres. Assim, pois, devemos crer, com toda a segurança, que tais efeitos sempre produzem interiormente, por mais que subtraiam à percepção de nossos sentidos.
Por este motivo, deixamos de parte que, depois do Batismo de Nosso Salvador no Jordão, os céus se abriram e o Espírito Santo apareceu em figura de pomba, para nos advertir que Sua graça nos é infundida na alma, por ocasião do banho salutar do Batismo. Mas, como dizíamos, não nos detemos nesse fato, porque se reporta antes à significação e importância do Batismo, do que à administração dos Sacramentos.
Entretanto, não lemos porventura que, quando os Apóstolos receberam o Espírito Santo no dia de Pentecostes, e por Sua virtude se tornaram mais fortes e mais animosos, para anunciar a verdade da Fé, e arrostar perigos pela glorificação de Cristo: - então “se ouviu de repente, como vindo do céu, um ruído semelhante ao soprar de um vento impetuoso, e sobre eles pousaram línguas que se repartiam, como se fossem de fogo?”
Este milagre nos dá a entender que o Sacramento da Crisma nos confere o mesmo Espírito, e nos dá as mesmas forças [como aos Apóstolos], para que possamos resistir valorosamente à carne, ao mundo e ao demônio, nossos inimigos declarados.
Milagres assim se repetiam, por algum tempo, nos primórdios da Igreja, quando os Apóstolos administravam os Sacramentos. Deixaram de ocorrer, desde que a fé ficou bem arraigada nos corações."
(Catecismo Romano – Parte II – Capítulo I – nº22)

Pensei então que o Catecismo Romano já estivesse ultrapassado - para não dizer como um velho amigo"já superado pelo Magistério posterior". Decidi então pesquisar mais profundamente a questão. Sobre a autoridade do Catecismo Romano encontrei o seguinte ensinamento da Igreja, no Novo Catecismo da Igreja (de João Paulo II):

“O Concílio de Trento constitui neste ponto um exemplo a ser sublinhado: deu à catequese uma prioridade nas suas constituições e nos seus decretos; está ele na origem do Catecismo Romano, que também leva o seu nome e constitui uma obra de primeira grandeza como resumo da doutrina cristã: ...” (CIC nº 09)

É João Paulo II que ensina que o Catecismo Romano constitui uma obra de primeira grandeza como resumo da doutrina cristã. Concluí que não era necessário procurar outra autoridade para confiar no Catecismo Romano, bastava-me a de João Paulo II.

O segundo “choque” deu-se quando li no livro “Alimento Sólido” do Prof. Felipe Aquino, editado pela Canção Nova, os seguintes trechos de dois sermões do Papa São Leão Magno – Doutor da Igreja:
(...)
Nisto consiste, efetivamente, o vigor das grandes almas e a luz dos corações fiéis: crer, sem hesitação, naquilo que não se vê com os olhos do corpo, e fixar o desejo onde a vista não pode chegar. Como poderia nascer esta piedade, ou como poderíamos ser justificados pela fé, se a nossa salvação consistisse apenas naquilo que nos é dado ver?
Na verdade, tudo o que na vida de nosso Redentor era visível passou para os ritos sacramentais; e para que a nossa fé fosse mais firme e autêntica, à visão sucedeu a doutrina, em cuja autoridade se devem apoiar os corações dos que crêem, iluminados pela luz celeste.(...)
(Papa São Leão Magno – Sermões – citado no livro: Alimento Sólido – Prof. Felipe Aquino – pág.194 )

(...)
“Lenta é para a ignorância humana a fé em crer no que não vê e esperar o que não conhece. Foram precisos, a fim de firmar na doutrina divina, os benefícios corporais e o estímulo do milagres patentes. Pela experiência de seu tão benigno poder não duvidariam que sua doutrina traz a salvação”.(...)
(Papa São Leão Magno – Sermão sobre as bem aventuranças – citado no livro: Alimento Sólido – Prof. Felipe Aquino – pág.198 )


O ensinamento acima é tão atual que está no novo Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, promulgado por Bento XVI, no parágrafo nº225.

O terceiro “choque” confirmou os dois textos anteriores. O texto é citado pelo maior Doutor da Igreja – Santo Tomás de Aquino – na sua Catena Áurea, que cita um sermão do Papa São Gregório sobre o seguinte trecho do Evangelho de São Marcos:

“Estes são os sinais que acompanharão aos que tiverem crido: em meu nome expulsarão demônios, falarão novas línguas, pegarão em serpentes, e se beberem algum veneno mortífero, nada sofrerão; imporão as mãos sobre os enfermos, e estes ficarão curados”(Mc 16,17)

“Mas porque não fazemos estes milagres, cremos menos nós?

Mas estas coisas foram necessárias nos princípios da Igreja. Foi preciso, para que crescesse a fé dos crentes, que esta fosse nutrida pelos milagres. Porque quando plantamos um arbusto o regamos até que cresça suficientemente, e suspendemos a irrigação quando sabemos que enraizou bem.

Mas é preciso a nós considerar mais atentamente outros milagres especiais, que faz-se agora todos os dias na Santa Igreja, e que fazia-se então corporalmente por meio dos Apóstolos.

Quando os sacerdotes impõem suas mãos sobre os crentes, e se opõe, com a graça que lhes é dada de exorcizar, a permanência do espírito maligno no coração daqueles, não fazem outra coisa que soltar deles os demônios.

E o fiel que abandona o espírito mundano e canta os santos mistérios, falará novas línguas; dominará as serpentes, se com suas boas exortações tira a malícia do coração do seu próximo; beberá licor venenoso e não lhe fará dano, se ouve maus conselhos e não se deixa levar ao mal por eles; porá, enfim, as mãos sobre os enfermos, e ficarão estes curados, todas as vezes que, vendo vacilar o seu próximo do caminho do bem, fortificar-lhe com o exemplo de suas boas obras. E seus milagres, são tanto maiores, quanto que são espirituais, e quanto que por eles despertam do seu sono, não nos corpos, senão nas almas”.

(Papa São Gregório Magno, homilia in Evangelia, 29)
http://hjg.com.ar/catena/c388.html

Vemos acima uma das principais passagens do Evangelho de São Marcos, que é muito utilizada pela RCC, comentada por um santo-papa-doutor da Igreja Católica, que nos dá um ensinamento totalmente contrário àquilo que é ensinado na RCC. O Santo Papa nos ensina que hoje, os milagres não são mais necessários, e também que são tanto maiores, porque são espirituais.

O quinto “choque” me deu ainda mais convicções de que a RCC estava infinitamente fora do catolicismo. São Jerônimo – doutor da Igreja – comenta sobre o Evangelho de São Marcos:

São Jerônimo comenta: “Os milagres foram precisos ao princípio para confirmar com eles a fé. Mas, uma vez que a fé da Igreja está confirmada, os milagres não são necessários” (Comm. in Marcum, ad loc.), e:
“Nos primeiros tempos da expansão da Igreja, estes fatos miraculosos que Jesus anuncia cumpriram-se de modo freqüente e visível. Os testemunhos históricos destes acontecimentos são abundantíssimos no Novo Testamento (cfr. p. ex. At 3, 1-11; 28, 3-6) e noutros escritos cristãos antigos. Era muito conveniente que assim sucedesse para mostrar ao mundo de uma maneira palpável a verdade do cristianismo. Mais tarde, continuaram a realizar-se milagres deste tipo, mas em menor número, como casos excepcionais. Também é conveniente que assim seja porque, por um lado, a verdade do cristianismo está já suficientemente atestada; e, por outro, para dar lugar ao mérito da fé”
(fonte: Edições Theologica).

E ainda:

"[Recebemos o Espírito] não para realizar prodígios, mas o suficiente para levar uma vida honesta e santamente comprometida. Mesmo que se admita que hoje tenha diminuído o carisma dos milagres, isso não nos pode prejudicar, nem poderemos utilizá-lo como desculpa quando tivermos de prestar contas de nossas obras"
( São João Crisóstomo – Doutor da Igreja - Da Verdadeira Conversão 8).
E também:
“No início se davam sinais aos não-crentes. A nós, porém, na plenitude da Igreja, importa compreender a verdade. Já não por sinais, mas pela fé”. (Santo Ambrósio (+397) – Bispo – Livro: “A minha Igreja”- Editora Cléofas – Prof. Felipe Aquino – pág. 144 – 4ºedição)

Aqui São Jerônimo confirma o ensinamento de que não há mais necessidade dos milagres, com a ressalva de que estes possam ocorrer em menor número, como casos excepcionais, como é o caso dos milagres realizados pelo Padre Donizeti, na década de 60, na cidade de Tambaú-SP. Na RCC, ao contrário, a ocorrência dos milagres deve ser a regra, enquanto que o “não ocorrer milagres” deve ser o caso excepcional. Além disso, São Jerônimo destaca o papel da Fé, ou seja, para que esta tenha seu mérito.
São João Crisóstomo sustenta que mesmo que hoje tenha diminuído o carisma dos milagres, isso não nos pode prejudicar. Na RCC é o contrário, se não usam-se os carismas o movimento ficaria prejudicado.

Podemos então perceber que em “via de regra” os milagres passaram para os sinais sacramentais, por isso não vemos mais estes ocorrerem normalmente em nossas Paróquias, nas Missas, nos Terços e em outras atividades paroquiais. Os milagres ocorrem internamente, ou seja, nas almas através dos sacramentos da Igreja. Ainda que hoje alguém precisasse de um milagre para crer, ordinariamente teria que crer na Igreja, que é uma prova incontestável (um milagre) da perpetuidade da Doutrina de Nosso Senhor durante dois mil anos.

O que então podemos verificar quanto às doutrinas enganosas ensinadas pela RCC? Um movimento que coloca o termo “Católica” em seu nome não deveria ao menos seguir a Doutrina Católica? Infelizmente o que temos visto é o contrário.
Quem mais nega obstinadamente a instituição dos Santos Sacramentos, do que os protestantes?
Onde foi que surgiu esta falsa doutrina da “atualidade dos carismas”?
A resposta é simples: no protestantismo. Onde supostos “pastores” interpretam as Sagradas Escrituras a seu “bel prazer” e inventam diversas interpretações falsas para as passagens bíblicas.
Esses hereges de “um só livro” fazem tudo o quanto podem para destruir a Sagrada Doutrina Sacramental, para isso fazem “caricaturas” dos Sacramentos Católicos em suas igrejolas falsificadas.
No lugar do Santo Crisma inventaram o tal “batismo no espírito santo” que não é mais nada do que uma legítima “experiência” de “descarga emocional”, onde se utilizam de músicas sentimentais melodramáticas e rock agitado para gerar esta “descarga”, além de uma bem colocada “fanfarra de vozes” que tentam a todo custo fazer uma “lavagem cerebral” nos fiéis. Depois, para inventarem uma prova real de que este “batismo no espírito (de porco)” é verídico apelaram para o seu falso “dom de línguas”, que nada tem a ver com o dom das línguas dos tempos apostólicos. O “dom de línguas” protestante é uma verdadeira vibração das cordas vocais, onde a língua fica se debatendo dentro da boca fazendo uma horripilante repetição de sílabas. Bem diferente é o verdadeiro dom das línguas (idiomas) dos apóstolos, onde esses, através de um maravilhoso milagre do Espírito Santo, passaram a falar e entender os diversos idiomas de todas as nações para que pudessem pregar o Evangelho ao mundo inteiro.
No lugar do Sacramento da Penitência (confissão) inventaram as tais seções de cura e libertação, onde são realizados falsos milagres e falsas curas. Pois em sua grande maioria são curas temporárias e imperfeitas realizadas através do emocionalismo a que são submetidos os fiéis. Já no sacramento da penitência a pessoa é curada na alma, tanto das feridas, que são os pecados veniais, quanto da ressurreição da alma, caso ela esteja morta pelo pecado mortal.
O principal e mais importante Sacramento que é a Eucaristia, Corpo e Sangue de Cristo, alimento da alma é substituído pela santa ceia. Assim os fiéis protestantes ficam privados do alimento indispensável para a manutenção da vida da alma.

É preciso entender também porque os sacramentos são em número de sete, para percebermos qual era o milagre que acompanhava cada sacramento no tempo dos apóstolos. O Catecismo Romano nos ensina muito bem:

“A razão de não ser maior, nem menor o seu número, podemos mostrá-la, de modo provável, por uma analogia entre a vida natural e a sobrenatural.
Para viver, conservar-se, levar uma vida útil a si mesmo e a sociedade, precisa o homem de sete coisas: nascer, crescer, nutrir-se; curar-se, quando adoece; recuperar as forças perdidas; ser guiado na vida social, por chefes revestidos de poder e autoridade; conservar-se a si mesmo e ao gênero humano, pela legítima propagação da espécie. Todas estas funções também se adaptam, indubitavelmente, àquela outra vida pela qual a alma vive para Deus. Dessa correlação se pode obviamente inferir o número dos Sacramentos”. (Catecismo Romano)


O Santo Batismo é o nosso nascimento para a Vida da Graça. O Espírito Santo passa a habitar nossa alma, e é expelido pela primeira vez o espírito do demônio.
MILAGRE EXTRAORDINÁRIO = os céus se abriram … (visível)
Milagre ordinário = recebe-se o Espírito Santo. (invisível)

O Santo Crisma é quando nos tornamos adultos na Vida da Graça, soldados de Cristo, prontos para o combate da Fé.
MILAGRE EXTRAORDINÁRIO = DOM DAS LÍNGUAS. (VISÍVEL)
Milagre ordinário = sete dons ordinários do Espírito Santo. (invisível)

O Santo Sacrifício (Missa) é o alimento da alma para a Vida da Graça.
MILAGRE EXTRAORDINÁRIO = Morte de Deus Filho, dando sua Carne e seu Sangue para a vida do mundo. Também os Milagres Eucarísticos (Lanciano, etc)
Milagre Ordinário = Transubstanciação – comunhão do Corpo e Sangue de Cristo.

O Sacramento da Penitência (confissão) é a ressurreição da alma para novamente estar na Vida da Graça.
MILAGRE EXTRAORDINÁRIO = Ressurreição de pessoas mortas (Lázaro, Tábita)
Milagre Ordinário = Ressurreição espiritual da alma morta pelo pecado mortal.

O Sacramento da Extrema Unção nos tira os remanescentes do pecado e restaura as forças da alma.
MILAGRE EXTRAORDINÁRIO = cura de pessoas enfermas.
Milagre Ordinário = perdão de pecados veniais, e se for da Vontade Divina a restauração da saúde.

Os outros dois Sacramentos (ordem e matrimônio) por serem para os estados de vida não possuem sinais prodigiosos para que sejam correlacionados a milagres extraordinários.

Voltando para o assunto da RCC, pode-se concluir que ela é protestante, com raízes protestantes, tronco protestante e frutos protestantes. É uma verdadeira invasão protestante no seio da Igreja Católica. Protestantismo este condenado infalivelmente pela Igreja no Concílio de Trento. Todos estão cansados de saber e os carismáticos ainda confessam em vários de seus livros que a RCC nasceu nos Estados Unidos, através de encontros de pentecostais com católicos, e que esses encontros eram administrados pelos pentecostais. Esse próprio fato já condena o movimento, pois assim adverte o Santo Ofício em carta aos bispos da Inglaterra:

“Não se pode de modo algum tolerar, porém, que os fiéis cristãos e os homens eclesiásticos rezem pela unidade cristã sob a guia de hereges e, coisa pior ainda, segundo uma intenção profundamente manchada e infecta de heresia”. (Dz 2887 – Santo Ofício – sob Pio IX)

Essa doutrina da “atualidade dos carismas extraordinários” serve unicamente para destruir a doutrina sacramental, principalmente do Crisma, Eucaristia e Penitência. Seria o mesmo que impedir uma criança de crescer, comer e de curar um ferimento.
Conclui-se então que dar crédito à falsa doutrina protestante/carismática da “atualidade dos carismas extraordinários” é o mesmo que negar a Doutrina Sacramental instituída por Nosso Senhor Jesus Cristo.

Neste sentido vale a pena também lembrar a exortação do Concilio Vaticano II sobre este tema:

“[...] Não devemos pedir temerariamente (imprudentemente) estes dons, nem esperar deles com presunção os frutos das obras apostólicas; é aos que governam a Igreja que pertence julgar da sua genuinidade e da conveniência do seu uso, e cuidar especialmente de não extinguir o espírito, mas tudo ponderar, e reter o que é bom (cf. lTs 5,12-21 e 19-21)”
cf. Lumem Gentium n. 12.

E ainda:

Por isso, diz Agostinho “Atualmente, todos recebem o Espírito Santo e, não obstante, não falam as línguas de todos, porque a Igreja já fala as línguas de todos os povos, e aquele que não pertence à Igreja não recebe o Espírito Santo”. (Sto. Agostinho – tract. 32, n. 7,39: ML 35, 1645 – Suma Teológica II–II – q.176 ad.1 – Sto. Tomás de Aquino - Editora Loyola)

"Quem em nossos dias, espera que aqueles a quem são impostas as mãos para que recebam o Espírito Santo, devem portanto falar em línguas , saiba que esses sinais foram necessários para aquele tempo. Pois eles foram dados com o significado de que o Espírito seria derramado sobre os homens de todas as línguas, para demonstrar que o Evangelho de Deus seria proclamado em todas as línguas existentes sobre a Terra. Portanto o que aconteceu, aconteceu com esse significado e passou".
(Santo Agostinho -Homilias em 1 João 6 10; NPNF2, v. 7, pp. 497-498.)

A afirmação abaixo nos deixa claro que hoje não há necessidade de milagres, pois eles são demonstrados pela dúplice tradição católica que confirma estes fatos extraordinários:

A prova tirada dos milagres de Jesus Cristo, sensível e manifesta para as testemunhas oculares, absolutamente não perdeu a sua força e clareza diante das gerações seguintes. Nós encontramos esta prova, com absoluta certeza, na autenticidade do Novo Testamento, na tradição oral e escrita de todos os cristãos. É por meio desta dúplice tradição que devemos demonstrá-la ao incrédulo que a rejeita ou aos que, sem admiti-la ainda, a desejam”. (Dz 2753 – Teses Subscritas por Lois-Eugène Bautain opostas ao Fideísmo – Gregório XVI)

Vale ainda dizer que os carismas ordinários que provém do Espírito Santo podem e devem ser utilizados por todos os fiéis e nesse sentido todos os cristãos devem ser carismáticos. Outro aspecto importante à esclarecer é que os carismas extraordinários ainda podem ocorrer atualmente, mas numa escala bem menor, e como casos excepcionais.

MILAGRES FALSOS OU VERDADEIROS?

Outro ponto importante a ser esclarecido seria sobre o modo de ocorrência dos milagres. Santo Tomás de Aquino na Suma Teológica nos dá os devidos esclarecimentos:

"Respondo: Entre os milagres, há os que não são verdadeiros, mas fatos imaginários, que enganam o homem, fazendo-o ver o que não existe. Outros, são fatos reais, embora não mereçam verdadeiramente o nome de milagres, pois são produzidos por certas causas naturais. Ora, dessas duas categorias de milagres podem ser feitas pelos demônios.
Os verdadeiros milagres não podem ser realizados senão pelo poder divino, pois Deus os produz para a utilidade do homem. E isto de dois modos: Primeiro, para confirmar a verdade pregada. Segundo, para manifestar a santidade de alguém, que Deus quer propor como exemplo de santidade. Ora, no primeiro caso, os milagres podem ser realizados por todos os que pregam a verdadeira fé e invocam o nome de Cristo, o que, às vezes, pode ser feito pelos próprios maus. Por isso, a respeito das palavras de Mateus “acaso não profetizamos em teu nome?”etc., diz Jerônimo: “Profetizar ou fazer milagres e expulsar demônios, às vezes não vem do mérito de que o faz; mas é invocação do nome de Cristo que o faz para que os homens honrem a Deus, por cuja invocação se realizam tantos milagres”. "
(Suma Teológica- II-II, q. 178 ad.2)

Um exemplo destes três modos de ocorrência poderíamos tirar do dom das línguas:

1)Para o primeiro modo podemos citar o falso dom de línguas carismático/pentecostal, que engana os fiéis fazendo-os acreditar que aquele som é o verdadeiro milagre.

2)No segundo modo podemos citar o caso de um homem poliglota que fala em cinco idiomas diferentes. Se ele chegasse numa assembléia e começasse a falar em alta voz diversas palavras em vários idiomas os fiéis poderiam certamente acreditar que esse fato miraculoso é o dom das línguas. Mas na verdade foram utilizadas causas naturais.

3) No terceiro modo poderíamos citar o dom das línguas dos Apóstolos, que passaram a falar e compreender, por um fantástico milagre os idiomas (línguas) de todos os povos.
Poderia ainda se fazer a mesma analogia com os demais carismas do Espírito Santo, mas deixaremos essa tarefa para o leitor.

FIDEÍSMO

Um último ponto ainda resta para concluirmos o assunto. É que toda esta falsa doutrina da “atualidade dos carismas” serve somente para confirmar e promover a principal falsa doutrina “do batismo no espírito” que eles propagam “aos sete ventos”.
Essa doutrina exige que o fiel tenha uma “experiência com Deus”- como se Deus fosse sentimentalismo – e através desta “experiência” que seria confirmada pelos “carismas do espírito santo”, o fiel estaria certo de que Deus está com ele e nele. Mas como essa “experiência com Deus” dos carismáticos não é sobrenatural e sim natural, os seus pretensos “carismas” também são na sua grande maioria naturais. Como o falso dom de línguas que não é milagre e sim aptidão natural para vibrar a língua sem parar.
O que eles não viram é que esta doutrina da experiência é condenada também pelo Catecismo da Igreja Católica:

2005 – “Sendo de ordem sobrenatural, a graça escapa à nossa experiência e só pode ser conhecida pela fé. Não podemos portanto basear-nos em nossos sentimentos ou em nossas obras para daí deduzir que estamos justificados e salvos.”

Agora poderiam objetar que o Catecismo diz que é a graça que escapa à nossa experiência e não o Espírito Santo. Mas então já respondemos com o nº 2003: A graça é antes de tudo e principalmente o dom do Espírito Santo que nos justifica e santifica.

A condenação do Magistério da Igreja para com a falsa doutrina da experiência deita suas raízes na heresia do Fideísmo, que “não reconhece a importância do conhecimento racional e do discurso filosófico para a compreensão da Fé, melhor, para a própria possibilidade de acreditar em Deus”. (Encíclica Fides et Ratio – João Paulo II – nº55)
No Fideísmo tudo fica atribuído à Fé, até mesmo aquilo que é natural passa a ser “sobrenatural”, o que é um exagero. Como é caso do falso dom de línguas. (Insisto neste ponto das línguas por ser este um exemplo bem didático).

A RCC foi o único movimento que levou um “puxão de orelha” de João Paulo II, por cair na heresia do Fideísmo:
“Na minha recente Carta Encíclica Fides et ratio adverti contra um fideísmo que não reconhece a importância da obra da razão, não só para uma compreensão da fé, mas também para o próprio ato de fé.”(DISCURSO DE JOÃO PAULO II AOS RESPONSÁVEIS DO MOVIMENTO CARISMÁTICO CATÓLICO - 30 de Outubro de 1998 – disponível no site do Vaticano)

João Paulo II, ainda aponta os critérios para o discernimento sobre a autenticidade dos carismas:
(...)
6. Pode-se apontar alguns critérios de discernimento geralmente seguido por ambas as autoridades eclesiásticas, como professores e diretores espirituais:
a. Conformidade com a fé da Igreja em Jesus Cristo (cf. 1 Cor 12, 3), um dom do Espírito Santo não pode ser contrário à fé que o mesmo espírito inspira toda a Igreja. «"Podeis reconhecer nisto o Espírito de Deus: todo espírito que confessa Jesus Cristo, vindo na carne é de Deus, e todo espírito que não confessa Jesus não é Deus" (1 Jo 4, 2-3).
b. A presença dos "frutos do Espírito: amor, alegria, paz" (Gl 5, 22). Qualquer dom do Espírito promove o progresso de amor, tanto na mesma pessoa, e na comunidade, portanto, produz alegria e paz.
Se um carisma causar embaraço e confusão, ou significa que não é autêntico ou não é usado corretamente. Como São Paulo, afirma: "Deus não é um Deus de confusão mas de paz" (1 Cor 14, 44). Sem a caridade, mesmo os carismas mais extraordinários carecem de utilidade (cf. 1 Cor 13, 1-3; Mt 7, 22-23).
c. A harmonia com a autoridade da Igreja e na aceitação das suas disposições. Após definir regras muito estritas para a utilização dos carismas na Igreja de Corinto, São Paulo, afirma: "Se alguém se julga um profeta ou inspirado pelo Espírito, reconheceça no que vos escrevo um mandamento do Senhor" (1 Coríntios 14 , 37). O verdadeiro carismático reconhece-se por sua sincera mansidão para com os pastores da Igreja. Um carisma não pode levantar a rebelião, nem provocar a ruptura da unidade. (…)
(João Paulo II – Audiência Geral – A Igreja, comunidade de Carismas – 24/06/92- disponível no site do Vaticano – em espanhol)

A conclusão é bem visível, existe um outro lado da história que não é o lado carismático, mas o lado Católico. De qual lado você vai ficar?
Reflita seriamente sobre estes fatos, você pode estar sendo enganado!


"Porque me viste, creste? Bem aventurados os que não viram e creram".(Jo 20,29)

“Mas como disse o Apóstolo que a fé é a posse antecipada das coisas que se esperam (Heb 11,1), mas que não se vêem evidentemente, se deduz que, nas que estão à vista, não cabe fé, senão conhecimento. Se, pois, Tomé viu e tocou, por que se lhe disse: "Porque me viste, creste"? Mas uma coisa viu e outra creu; viu ao homem, e confessou à Deus. Muito alegra o que segue: "Bem aventurados os que não viram e creram". Nesta sentença estamos especialmente compreendidos, porque Aquele a quem não temos visto em carne, o vemos pela fé, se a acompanhamos com as obras, pois aquele que crê verdadeiramente executa obrando o que crê.”
(Papa São Gregório, In Evang. hom. 26 – Catena Áurea – Jo 20,29)


“Se alguém dizer, oxalá houvesse vivido naqueles tempos, e houvesse visto o Senhor fazendo milagres, que se acuda a esta palavra: “Bem-aventurados os que não viram e creram”” (São João Crisóstomo, in Ioannem, hom. 86 – Catena Áurea – Jo 20,29)