Santo Tomás de Aquino
e a
Paixão da Igreja
Faremos
ao leitor um resumo sistemático das explicações de Santo Tomás (retiradas do
seu comentário a Segunda Epístola de São Paulo aos Tessalonicensses)
pertinentes à Paixão da Igreja Católica. Para isto citaremos novamente o texto
original de Santo Tomás (o qual publicamos na íntegra no post anterior),
seguido do subtítulo “capitulando”, onde iremos expor os aspectos mais
importantes aplicados ao tema da Paixão da Igreja.
“No capítulo anterior o Apóstolo correu o véu aos
acontecimentos futuros no que mostra as penas dos maus e o prêmio dos bons; aqui anuncia os perigos que correrá a Igreja
no tempo do Anticristo; e primeiro anuncia a verdade desses perigos futuros, e exorta-os logo a
permanecer na verdade.”
Versículo 3:
“Não deixai-vos seduzir
por nada e de nenhum modo, porque não virá este dia sem que primeiro haja
acontecido a apostasia geral dos fiéis, e aparecido o homem do pecado, o filho
da perdição,
“Estabelece
logo a verdade, ao dizer: "porque
não virá este dia sem que primeiro haja acontecido a apostasia"; e
mostra primeiro o que acontecerá à vinda Anticristo, que são duas coisas: uma
anterior à sua vinda; outra, a sua mesma vinda. Primeiro está a apostasia, que a Glosa explica de muitas maneiras, e primeiro da fé, que, segundo estava
anunciado (Mt 24), todo o mundo a receberia. Esta é, pois o sinal precursor,
que - segundo Santo Agostinho - ainda não se cumpre; depois dela haverá muitos
apóstatas (1Tm 4) "e pela inundação
dos vícios se resfriará a caridade de muitos" (Mt 24,12).
Ou
entenda-se a apostasia ou separação do Império Romano, ao que todo o mundo
estava submetido. Segundo Santo Agostinho, figura sua era a estátua de Daniel,
em cujo capítulo dois se nomeiam quatro reinos, os quais terminariam no
acontecimento da vinda de Cristo; e que isto era um sinal a propósito, porque a
firmeza e estabilidade do Império Romano estava ordenada a que, debaixo de sua
sombra e senhorio se ensinasse por todo o mundo a fé cristã. Mas como pode ser
isto, sendo já passados muitos séculos desde que os Gentios se apartaram do
Império Romano e, isso não obstante, não havia vindo ainda o Anticristo? Digamos que o Império Romano ainda segue em
pé, mas mudada sua condição de temporal em espiritual, como disse o Papa São
Leão em um sermão sobre os Apóstolos. Por conseguinte, a separação do
Império Romano há de entender-se, não só na ordem temporal, senão também na
espiritual, e, a saber, da fé católica
da Igreja Romana. E isto é um sinal
muito a propósito, porque, assim como Cristo veio quando o Império Romano
senhoreava sobre todas as nações, assim pelo contrário o sinal do Anticristo é
a separação dele ou apostasia.”
Capitulando:
1) Santo Tomás inicia seu comentário
afirmando que a Igreja correrá perigos
no tempo do Anticristo, indicando aqui - ao menos de forma implícita - uma
Paixão da Igreja.
2) Com relação ao tema da apostasia o Angélico diz que esta é primeiramente da Fé e em seguida
explica a mesma apostasia como separação do Império Romano. “Mas como pode ser isto, sendo já passados
muitos séculos desde que os Gentios se apartaram do Império Romano e, isso não
obstante, não havia vindo ainda o Anticristo?” Mas em seguida explica a
questão através das palavras de São Leão Magno: “Digamos que o Império Romano ainda segue em pé, mas mudada sua condição
de temporal em espiritual, como disse o Papa São Leão em um sermão sobre os
Apóstolos. Por conseguinte, a separação do Império Romano há de
entender-se, não só na ordem temporal, senão também na espiritual, e, a saber, da fé católica da Igreja Romana.”
Assim temos que a apostasia é a
separação da Fé Católica da Igreja Romana, que é o Império Romano Espiritual,
indicando também aqui implicitamente uma Paixão da Igreja, pois indica um
afastamento, uma separação ou perda da Fé Católica que anteriormente se
possuía.
Versículo
4:
o qual se oporá à Deus
e se levantará contra tudo o que se diz Deus,
ou se adora, até chegar
a por seu assento no templo de Deus,
dando-se a entender que
é Deus.”
“Sinal de
sua culpa (do Anticristo) é o que diz: "até
chegar a por seu assento no templo de Deus"; pois a soberba do
Anticristo avantaja em muito a de todos os que lhe precederam. Porque assim
como se lê de Caio César que quis em vida pusessem em todos os templos uma
estátua sua e lhe dessem culto; e do rei de Tiro se diz em Ezequiel 28: "eu sou Deus"; assim é crível
o faça o Anticristo chamando-se Deus e homem; e na prova disso se sentará no
templo. Mas em que templo?”
“Acaso
não foi destruído pelos Romanos? Por isso dizem alguns que o Anticristo é da
tribo de Dan, que não se nomeia entre as outras doze (Ap 7); e por isso também
os Judeus o receberam primeiro, e reedificaram o templo em Jerusalém, e assim
se cumprirá o de Daniel 9,27: "e estará no templo a abominação da
desolação" (Mt 24). Mas alguns dizem que nunca será reedificada Jerusalém,
nem o templo, senão que durará a desolação até a consumação no fim do mundo.
Crença que admitem também alguns Judeus; por isso a explicação que dão de "no templo de Deus" a referem
à Igreja, porque muitos eclesiásticos o receberão. Ou, segundo Santo Agostinho, se sentará no
templo de Deus, isto é, exercerá seu principado e senhorio, como se fosse ele
mesmo com os seus o templo de Deus, como Cristo o é com os seus.”
Capitulando:
1)
Santo Tomás deixa claro que o
templo onde se sentará o Anticristo não é o Templo de Jerusalém, mas sim a
Igreja, porque muitos eclesiásticos receberão o Anticristo.
2)
Santo Tomás também faz um
importante paralelo entre este trecho de 2Tess 2,4 e o Evangelho de São Mateus
cap.24 onde Nosso Senhor cita a profecia de Daniel 9,27: "e estará no templo a
abominação da desolação"
Versículo 6:
“Vós já sabeis a causa que agora o detém, até que seja
manifestado a seu tempo.”
Chega o
Apóstolo, anunciando o futuro, contou a chegada e culpa do Anticristo; aqui nos
mostra a causa que impede essa vinda; e primeiro descobre que eles já sabem a
que causa se refere, e a propõe em termos obscuros. Assim pois: digo que é
necessário se dê a conhecer o homem do pecado. "Já sabeis vós a causa que agora o detém", isto é, a
causa de que se tarda, porque eu já lhes disse, de sorte que o que ao presente
lhe detém, "a seu tempo",
isto é, oportunamente, "se dará a
conhecer" (Ecle.8).
Versículo
7:
“O fato é que já vai obrando o
mistério da iniquidade;
entretanto, o que está firme
agora mantenha-se até que seja tirado o impedimento”
-"O fato é que já vai obrando
ou tomando forma o mistério da iniquidade".
“Explica por que se demora o
Anticristo; e este texto tem muitas interpretações, porque mistério pode
estar em nominativo* ou acusativo**. No primeiro caso o sentido é este: digo que a seu tempo se dará a
conhecer, porque ainda o mistério, isto é, - figuradamente ocultado
(enigmáticamente proposto), já está
obrando nos fingidos (cristãos), que parecem bons, e na realidade são maus, e
estão fazendo o ofício do Anticristo, "mostrando,
sim, aparência de piedade, mas renunciando ao seu espírito" (2Tm 3,5).
No segundo caso, ou no acusativo, se interpreta assim: porque
o diabo, em cujo poder permanecerá o Anticristo, já começou ocultamente, por
meio dos tiranos e enganadores, a
cometer suas iniquidades; porque as perseguições à Igreja deste tempo são
figuras dessa última perseguição contra todos os bons e, em comparação com
aquela, são como a cópia respectiva da original.”
Nota: *Nominativo
= sujeito da oração
**Acusativo = objeto direto
-"Entretanto
o que está firme agora".
Isto também tem múltipla
explicação. Uma - segundo Santo
Agostinho e a Glosa - diz que, na opinião de alguns, o Anticristo é Nero, o
primeiro perseguidor dos cristãos, que não foi morto, senão roubado
fraudulentamente, e que algum dia será restituído em seu lugar. Donde o
Apóstolo, dando por vã esta opinião,
diz: "entretanto o que está firme
agora", tendo em suas mãos o Império, "mantenha-se, até que seja tirado o impedimento", isto é,
até que morra. Mas explicado desta maneira não cai bem,
porque há muitos anos que Nero está morto, à saber, o mesmo ano que o Apóstolo.
Refere-se melhor a Nero, como pessoa
pública do Império Romano, até que seja tirado do meio, isto é, o Império
Romano, deste mundo (Is 23,9: foi o
Senhor dos Exércitos que o decidiu, para fazer murchar o orgulho de tudo que se
honra).
Capitulando:
1) Aqui Santo
Tomás diz que o obstáculo que impede a vinda do Anticristo é o Império Romano, que como já vimos anteriormente pelo sermão de
São Leão Magno (na lição 1), é a Igreja Católica Romana. Assim temos que o
Anticristo não virá até que seja tirado o impedimento que é a Fé Católica,
guardada pela Igreja Romana e por seu guia o Romano Pontífice.
É
importante aqui o esclarecimento sobre o que seria este Império Romano
Espiritual: longe estaria este de ser algo puramente espiritual, como se fosse
uma alma por exemplo. Este Império Espiritual que é a Igreja Católica Romana é
dotado - como foi em todos os séculos – de visibilidade, de uma estrutura
física, de uma hierarquia visível, ou seja, é um verdadeiro Império, mas
englobando também toda uma doutrina que conduz à salvação, por isso ele é um
Império Espiritual. Sem esta distinção cairíamos em dois erros: 1) na heresia
protestante ao afirmar que a Igreja de Cristo é apenas espiritual e por isso
sem necessidade de visibilidade. 2) no erro em afirmar que o obstáculo que
impede a vinda do Anticristo é apenas espiritual, uma Igreja Católica apenas
espiritual, que não fosse dotada de visibilidade. Dessa forma (somente espiritual) nunca nos seria
possível perceber quando se daria o momento da retirada do obstáculo
providencial, ou seja, da Igreja Católica.
Versículo 8:
“E então se deixará ver aquele
perverso, a quem o Senhor Jesus matará com o alento de sua boca e destruirá com
o resplendor de sua presença”
Ao
dizer logo: "e então se deixará
ver", põe-se a chegada do iníquo e sua pena; primeiro sua
manifestação, logo sua pena. Quanto ao primeiro diz: aquele, o único, iníquo,
perverso, se deixará ver, porque sua culpa se fará patente, "a quem o
Senhor Jesus matará com o alento de sua boca". - "O zelo do Senhor dos exércitos é o que fará estas coisas"
(Is 9,7), isto é, o zelo da justiça, que é amor; porque o espírito de Cristo é
o amor de Cristo, e este zelo é o que o Espírito Santo tem para com a Igreja.
Ou com o alento de sua boca, isto é, por ordem dela; porque São Miguel lhe dará
morte no Monte das Oliveiras, de onde Cristo subiu aos céus. De sorte parecida
encontrou seu fim Juliano o Apóstata, executado por mão divina. E esta é a pena
presente, embora também será castigado com a eterna, porque "o destruirá com o resplendor de sua
presença", isto é, com sua chegada que tudo o porá como um sol (1Co
4). E o destruirá, digo, com a eterna condenação (Sl. 27). Diz também resplendor, porque o Anticristo pareceu encher de trevas a
Igreja, e as trevas são desterradas pelos resplendores; porque tudo o que o
Anticristo dará a conhecer será demonstrado haver sido engano.
Capitulando:
1)
Santo Tomás afirma que “o Anticristo pareceu encher de trevas a
Igreja”, e também que “tudo o que o
Anticristo dará a conhecer será demonstrado haver sido engano.” Novamente
temos aqui, agora de forma mais clara a Paixão da Igreja, pois a Igreja
parecerá estar cheia de trevas, pois o Anticristo dará a conhecer doutrinas
enganosas, isto fica mais claro quando refletimos também sobre o comentário do
Aquinate ao Evangelho de São Mateus:
"Em seguida, haverá uma grande tribulação, porque o
ensino cristão será pervertido por um falso ensino. E se esses dias não
tivessem sido abreviados, ou seja, através do ensino da doutrina, da verdadeira
doutrina, ninguém poderia ser salvo, o que significa que todos seriam
convertidos à falsa doutrina."
Em
relação a esta falsa doutrina à qual todos seriam convertidos o Doutor Angélico
na lição 3 - 2Tess 2,11 (próximo trecho) afirma que é a falsa doutrina do
Anticristo:
“Por isso diz: "com
que creiam na mentira",
isto é, na
falsa doutrina do Anticristo (Rm 1).”
Versículos 11 e 12
“Por isso Deus lhes enviará ou
permitirá que obre neles o artifício do erro, com que creiam na mentira,
para que
sejam condenados todos os que não creram na verdade,
mas que
se comprazeram na maldade”
Depois de indicar a
quem seduzirá o Anticristo, à saber, os destinados à
condenação, aqui explica o porque do dito e como serão seduzidos; os fiéis,
pelo contrário, como serão livrados. Assim mesmo indica só sua culpa, a pena
com a culpa, só a pena. E este é o passo-a-passo com que procede o pecado: que
primeiro é um desamparado da graça pelo demérito do primeiro pecado, e cai em
outro pecado (porque um abismo chama a outro abismo), e por último na
condenação eterna. Disse pois que a
causa pela qual serão enganados é o não haver recebido e amado a verdade, isto
é, a verdade do Evangelho (Jo 8; Jó 24); e diz: "caridade da verdade", porque, ao não estar informada a
fé pela caridade, não tem nenhum valor (1Co 13; Gal. 6). E acrescenta o
proveito que trai a verdade dizendo: "a
fim de salvar-se" (Rm 5). Mas,
por culpa de não haver recebido a verdade, a pena será seu engano; de donde
diz: "enviará", isto é,
permitirá que obre neles "o
artifício do erro" (Is 19; 3 Reis 22). Por isso diz: "com que creiam na mentira",
isto é, na falsa doutrina do Anticristo
(Rm 1). Mas a pena é a eterna condenação; donde acrescenta: "para que sejam condenados",
com sentença de condenação (Jo 5), "todos
os que não creram na verdade" (Jo 3).
Capitulando:
1) Santo
Tomás afirma que é o crer na falsa
doutrina do Anticristo que será a pena daqueles que não amaram a
verdade do Evangelho. Assim temos evidenciado que o Anticristo possuirá uma
falsa doutrina a ser ensinada.
Capitulação Final:
I
– A apostasia é da Fé Católica
II
– O templo de Deus que o Anticristo irá por seu assento é o templo da Igreja
Católica.
III
– O obstáculo a ser retirado para que apareça o Anticristo é a Fé da Igreja
Católica Romana.
IV-
O anticristo parecerá ter enchido a Igreja de trevas.
V-
O anticristo será portador de uma falsa doutrina, que será demonstrada ser uma
mentira (engano), quando da segunda Vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Nosso Senhor Jesus Cristo durante a sua
Paixão passou por vários tormentos físicos, mas talvez um dos momentos mais
angustiantes foi quando um assassino -
Bar Abás – foi escolhido pelo povo judeu para ser liberto, enquanto ao mesmo
tempo O condenavam à ser crucificado. Bar Abás também era visto como um
revolucionário e libertador do povo de Israel da opressão romana, mas seu ideal
era mundano, seu reino era deste mundo. Bar Abás é figura do Anticristo, assim
afirma Santo Hilário, citado por Santo Tomás na Catena Áurea:
“Os sacerdotes ao excitar o povo, escolheram a Barrabás, que quer dizer “filho de seu pai”, no que
revela-se o segredo de sua futura iniquidade, dando a preferência sobre Cristo ao Anticristo, que é o filho do
pecado.” (in Matthaeum,33)
– Catena Aurea de Santo Tomás ao Evangelho de São
Mateus - Mt 27,15-26
Assim
o povo escolhe dar liberdade à Bar Abás, figura do Anticristo, com sua falsa libertação
ao invés de Cristo que mandam ser condenado à crucificação. Do mesmo modo na
Paixão da Igreja Católica o povo escolhe dar liberdade à Anti-Igreja, forjada
na falsa doutrina do Anticristo e condenam a Igreja Católica. Os bispos
reunidos no anti-concílio Vaticano II ao aprovarem seus decretos condenam a
Verdadeira Igreja Católica e dão liberdade à Anti-Igreja do Anticristo, mandam
a Esposa Imaculada de Cristo para ser crucificada e soltam a Grande Prostituta,
a Babilônia das Nações. Igreja do Maligno é o título dado por Santo Tomás
quando se refere à Babilônia relatada no Livro do Apocalipse:
“Primo ergo agitur de damnatione Babylonis,
hoc est Ecclesia malignantium.”
“Em primeiro lugar, portanto, é tratada sobre a condenação da Babilônia,
isto é, da Igreja do maligno.”
(Santo Tomás
de Aquino – Comentário ao Livro do Apocalipse de São João – Capítulo 18)
De
acordo com o Santo Doutor temos que a Babilônia é a “Ecclesia malignantium”, ou seja, a Babilônia é uma verdadeira
Igreja constituída por malfeitores, com certeza em oposição à verdadeira Igreja
dos Santos e com o objetivo de se fazer passar por ela, já que sua missão seria
converter todos para a falsa doutrina do Anticristo. É também importante
ressaltar que essa Igreja do Maligno será condenada e quando isto acontecer que
não tenhamos parte com ela:
“Saí
dela meu povo, para que não participeis de suas prostituições”.
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